Projeto de Gustavo Penna, atualmente o endereço da 31 Mobiliário, mostra que arquitetura não é dentro, nem fora. É através
Insta: Gustavo Penna – 31 Mobiliário
Entrar em uma edificação e sentir o que a arquitetura – pensada e projetada para aquele espaço – te oferece é uma experiência que, de alguma maneira provoca não só a visão, mas a audição, o olfato e o tato (e nem é preciso tocar em nada). Talvez nem o paladar fique imune, dada sua irmandade com o olfato. Entrar na casa onde está a 31 Mobiliário, espaço das sócias Marcela Bartolomeu e Bruna Gunnella, com direção de arte feita por Zanini de Zanine, é vivenciar esse momento com prazer.
Dizem que a beleza está presente quando o aspecto da obra é acolhedor, elegante e a dimensão dos elementos mantém justas relações de proporção. É mais ou menos isso o que se sente a partir da rua e se avista a caixa que se apoia no terreno de uma forma delicada, como se estivesse alçada no ar. Tudo tem poesia e carinho. Ao passar do portão, o percurso começa como uma ponte que liga o passeio à construção, como uma iniciação para o que virá.
Como diz o arquiteto Gustavo Penna, autor do projeto, ‘arquitetura não é dentro, nem fora, é através’. Bingo! Pensada inicialmente para ser uma galeria de arte, a Pace Galeria, Gustavo diz que partiu da ideia de que arte é fluxo sem fim, um caminho que continua.
“Normalmente as galerias têm uma porta de entrada por onde se chega para ver a obra do artista. O fim do percurso é a obra”, comenta. A proposta do arquiteto era ir além, como se a caixa é que fosse trespassada pelo caminho. Assim, a passarela da entrada, por exemplo, atravessa o primeiro salão e prossegue até um pequeno mirante. Lá, naquele pedacinho que não termina onde acaba, Zanini de Zanine gosta de contemplar a cidade.
Ainda no primeiro ambiente, o teto com lajes perfuradas aparentes também causa impacto, mesmo hoje, final de 2021. Concluído em 1996, este foi um dos primeiros projetos do arquiteto a destacar esse elemento.
O espaço interno é branco, cheio de ar e de luz. E a iluminação foi projetada para repetir a ideia de ambiente luminoso, com luzes rebatidas evitando os focos e as sombras duras. A escada, dentro e fora ao mesmo tempo, oferece essa claridade ao percurso. Um lugar para mostrar ideias vivas. O recorte em vidro que margeia os degraus, as costuras em níveis, na vertical e na horizontal tem dupla função e brinca com o espaço externo e interno, como se o volume estivesse escorregando.
No nível mais baixo, mais uma surpresa: é onde se pode contemplar a dimensão do verde generoso no fundo do terreno, com árvores centenárias. Para Marcela Bartolomeu, um de seus lugares prediletos. “O que me impactou aqui foi a semelhança com o conceito da loja, simples e chique ao mesmo tempo. Também me encantei pelo concreto aparente, pelo pé direito generoso, as proporções, as colunas que amamos e essa luz interna que é linda”, enumera. Essa sintonia imediata fez, inclusive, com que ela antecipasse a inauguração da loja, que aconteceu em plena pandemia, no ano passado. “Não queria perder a oportunidade de ter a 31 Mobiliário nesse endereço”.
Hoje, muito bem instalada, a 31 Mobiliário tem muito a comemorar. Além de uma curadoria especial de obras de arte, de um acervo de peças consagradas e também de designers como Ronald Sasson, Rodrigo Ohtake, Olavo Machado e Juliana Vasconcellos, ela será a responsável pela reedição nacional do mobiliário assinado por Ruy Ohtake. Se o projeto de Gustavo Penna já abrigou uma galeria de arte (na época a fachada era amarela, como pode ser visto em algumas fotos) e também um salão de beleza, atualmente, como endereço da 31 Mobiliário, a construção permanece com a proposta de mostrar que as ideias permanecem mais vivas do que nunca.
FOTOS: IMAGENS GENTILMENTE CEDIDAS PELA 31 MOBILIÁRIO E POR GUSTAVO PENNA