Vocabulário singular

Seja no desenho ou no campo tridimensional da cerâmica, artista Paula Juchem investe na liberdade de criar a própria história

Insta: Paula JuchemJanaina Torres Galeria

Conversei com Paula Juchem em um momento especial. Sem os filhos por perto, ela e o marido resolveram dar uma esticada até Barra do Una, praia do litoral paulista com vegetação abundante, onde acontece o encontro do rio Una com o mar, separados por uma faixa de areia clara e fofa. Nem nesse pedacinho de paraíso, Paula deixou a arte de lado. “Estou com uma pilha de papel A2 e tintas de todas as cores, guache e também acrílica, que nunca tinha usado e resolvi experimentar. Já estou misturando tudo”, diverte-se.

A fala de Paula é ágil, o timbre da voz vem acentuado com uma empolgação quase adolescente. Aos 46 anos, a gaúcha que se formou em desenho industrial, morou em Milão por 14 anos trabalhando como ilustradora e fez sua primeira coleção de pratos com decalques em 2012 que, por sinal, acabou exposta na Design Gallery Milano, durante o Salão do Móvel daquele mesmo ano, permanece com o mesmo gosto pelo desafio.

Em 2017 expôs Alquimias, coleção feita para a Firma Casa, em São Paulo: uma série de 13 cerâmicas inspiradas pelo princípio de que metais inferiores, quando manipulados por meio do conhecimento, podem se converter em ouro. São vasos de argila que, após receberem elementos decorativos, se transformam em objetos únicos.

Paula se considera um designer que, nesse momento, ‘está’ ceramista. Entretanto, ela vai muito além do exercício de afrontar materiais, seja o tecido, o vidro, as tintas, a madeira ou a argila. Tanto que, recentemente, quando a galerista Janaina Torres visitou seu ateliê e começou a olhar para as paredes cobertas por desenhos que faz em guache e papel A2, ficou admirada. “Ela pegou meus rabiscos, até os feitos em papel de pão”, conta, rindo. E emenda: “Sempre tive um pouco de vergonha de mostrar esses desenhos, era algo meu, meio escondido”. Presente à cena, a curadora carioca Heloísa Amaral também se empolgou com o que viu. “Antes eu achava que a relação com uma galeria de arte tinha apenas o lado comercial, agora vejo que é um meio que também me estimula e me abre outras possibilidades”, comenta.

Além dos desenhos, Paula também se concentra em uma nova série para a Janaina Torres Galeria, que a representa, intitulada Sucuri. São cordões de cerca de cinco metros que dão sequência a uma outra série, batizada de Empilhados.

Cada peça assinada por Paula traduz o repertório imagético que ela desenvolveu com o desenho e a colagem para um vocabulário bastante singular no campo tridimensional. Sem medo de experimentar técnicas, modelagens, ornamentos e esmaltes, sua produção é única. A sensação é que ela está sempre a explorar os limites: adiciona, apaga, conserta ou simplesmente recomeça. Paula flerta com o excesso, sobrepondo massa, tinta, cores e técnicas, em um repertório de traços e coloridos que ela amadurece há anos e, por isso, é só dela. “Minha vida profissional só se formatou mais tarde”, comenta. Se isso faz parte de um ‘começo’, imagina o que vem pela frente.

Fotos gentilmente cedidas pela designer.

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