Pessoal e intransferível

Escolhemos mais três ambientes da CASACOR Rio 2021 que devem ser percorridos com calma, num trajeto itinerante e cheio de surpresas

Insta: CASACOR RioBeto Figueiredo e Luiz Eduardo AlmeidaGisele TarantoUP3

E se tempo espaço não fosse uma medida cartesiana, como não é, e o nosso corpo pudesse percorrer o caminho que o fizesse vagar entre o prazer, a beleza e as sutilezas? Escolhemos três ambientes da CASACOR Rio 2021, como se pudéssemos abrir uma porta, sair de um deles e logo entrar no próximo. Vem com a gente, relaxar num banho sofisticado entre o passado e o presente, para depois entrar em contato com a arte e o bom design em um momento que é só seu e, por fim, mergulhar numa proposta em que a tecnologia, a sustentabilidade e o equilíbrio de volumes e vazios e assim preencher a nossa vontade virar a maçaneta, transpor a soleira e seguir em frente.

Me banho de encanto 

No meio do banheiro tinha uma árvore. Poderia até virar um poema e, na verdade, não deixa de ser pura poesia. Não é todo dia que uma jabuticabeira ganha o centro das atenções, em um ambiente íntimo, que conserva a sofisticação que lhe foi conferida em outras épocas, embora tenha soluções contemporâneas como bem sintonizadas aliadas. Assim é a Sala de Banho Deca, assinada por Beto Figueiredo e Luiz Eduardo Almeida, no palacete do Jardim Botânico que abriga a CASACOR Rio 2021.

Entre as intervenções a pia acompanha a proposta inusitada, rodeando a árvore, em uma circunferência externa de 1,5m, com duas torneiras posicionadas de forma a parecer que o tronco é a fonte da água, desenho dos arquitetos desenvolvido pela Deca. O verde das folhas também não foi relegado a um mero elemento de impacto: é ele que orienta as cores do resto da decoração, ganhando novos matizes.

O ambiente ainda se vale dos arcos originais, da azulejaria portuguesa e dos vitrais coloridos que dão para os jardins externos, preservando a história sem deixar de acompanhar a linha do tempo. Permanece imperiosa a banheira de mármore de Carrara, que teria pertencido à imperatriz Tereza Cristina que ganhou uma nova composição, com a tubulação preta que forma um desenho em toda a parede. Nela, os registros de pressão receberam palavras-chave, como equilíbrio, resiliência e tolerância, na intenção de despertar boas energias.

O pé direito alto ainda abriga a ducha e bacia sanitária, que fica mais privativa com a cortina de linho verde escuro. Ambientado por livros, o espaço ainda recebe uma bela fotografia de uma floresta natural. Por todo o projeto, tecnologia e tradição convivem lado a lado, criando uma sala de banho que ultrapassa os limites do tempo.

Nada será como ontem, amanhã

Depois de um banho de encantamentos diversos, nada como se deixar estar em um espaço onde o encontro entre a arquitetura e a arte se dão de forma fluida, no Living Mutante da arquiteta Gisele Taranto. Tudo é o que parece, a começar pelos clássicos do design assinados por Sérgio Rodrigues, Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer. Em tempos de extensa permanência em casa, nada melhor do que ampliar as boas companhias, para além do convívio interpessoal. No caso desse mobiliário, uma escolha tão fiel quando os casamentos dos contos de fadas: são para sempre. Ao mesmo tempo, sintonizado com o tempo presente, o ambiente foi pensado de forma mutante e mutável: um espaço flexível que pode ser facilmente modificado quando necessário. Com ares de galeria, ele permite a troca das obras de arte, capazes de fazer a mágica de transformar o ambiente de acordo com o mood do momento.

Onde a gentileza está

A trivial vontade de sair de casa pode ter uma solução logo ali ao lado. Camuflada pelo jardim, a Casa UP para Metalmarco assinada por Michelle Wilkinson, Thiago Morsh e Cadé Marino é perfeita. Uma construção contemporânea em estrutura metálica feita exclusivamente para a mostra – de forma rápida, sustentável e sem gerar quase nenhum lixo – e que ganha protagonismo à medida que o visitante se aproxima. No interior, o estilo escandinavo se dobra ao toque bem carioca que aparece tanto na integração com o verde do entorno quanto na valorização de elementos naturais. Pedra, argila, madeira e algodão são usados na decoração de espaços abertos, fluidos, versáteis e multifuncionais criando um ambiente que propõe uma reconexão com a natureza, o que é ainda mais reforçado pela paleta em tons terrosos e verde-mata.

FOTOS: André Nazareth

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