Passado Presente

Projeto de interiores da arquiteta Carol Horta respeita vazios e agrega valores que vão da relevância histórica à fruição estética

Insta: Carol Horta

O ano é 2021 e é muito emblemática a emoção que o mobiliário moderno brasileiro causa quando peças ícones de uma época são reeditadas para compor ambientes contemporâneos, em uma nova leitura. Nesse projeto de interiores da arquiteta Carol Horta, a presença da poltrona jangada, assinada por Jean Gillon e da mesa pétala e duas poltronas Annettes, de Jorge Zalszupin dão potência ao espaço, agregando valores que vão da relevância histórica à fruição estética. Antes de entrar nos detalhes do trabalho de Carol Horta para essa residência, permitimos uma volta a um passado recente e bastante significativo para entender a importância dessas peças e de várias outras que se agrupam nessa categoria.

Linha do tempo

A fundação de Brasília, em 1960, assinalou a consolidação da linguagem modernista no imaginário nacional. A década que então se iniciava marcou ainda a fase de apogeu do móvel moderno brasileiro, que passou a contar com uma multiplicidade de propostas autorais e de empresas dedicadas ao setor, que atendiam a um público consumidor consideravelmente ampliado.

Na década de 1970 esse processo parece ter virado do avesso e o mobiliário moderno brasileiro experimentou, a partir de então, uma fase de quase total esquecimento, passando a ser visto como um modismo ultrapassado. Demorou para reverter esse ostracismo. O movimento de redescoberta do que aqui havia sido criado naquele período só teve início em 1990, quando foi constatada, com surpresa, uma vigorosa e múltipla produção de alta qualidade que, apesar das limitações técnicas das empresas nacionais da época, alcançou rara maturidade formal.

A redescoberta do móvel moderno brasileiro passa a trata-lo não apenas como objeto utilitário, mas também como possuidor de relevância histórica e da capacidade de incorporar a fruição estética e a prática do colecionismo. Um novo público consumidor, de início restrito, amplia-se significativamente ao longo do tempo. O renovado interesse pela mobília moderna no país, que agora compreendia a busca pelo conhecimento de sua trajetória histórica e o estudo de seus autores, acabou por criar um mercado vigoroso para os seus exemplares remanescentes, que passaram a ser comercializados por galerias especializadas, semelhantes em muitos aspectos às galerias dedicadas ao mercado de arte.

Presente mais que perfeito

Um projeto de interior cresce quando o profissional consegue agregar informação e conhecimento no trabalho que executa. Nesse aqui, a arquiteta Carol Horta foi presenteada com clientes que já tinham um sentimento forte tanto pelas artes visuais quanto pelo design. Por isso, quando ela apresentou a proposta ao jovem casal, foi aprovada na íntegra. Até mesmo o verde da poltrona jangada, peça icônica de Jean Gillon teve que ser o mesmo idealizado pela arquiteta. “A intenção foi trabalhar com as cores da natureza e, como eles tem um belo jardim de inverno, trabalhei o tom das folhagens na poltrona”, comenta Carol, que usou ainda a madeira, objetos de cerâmica e tapete em fibra natural aliado à neutralidade do travertino.

Ao integrar os ambientes, a arquiteta propôs a utilização de poucos móveis, criando interessantes vazios, interligando os espaços de uma forma natural e limpa. Na sala central, como queria algo mais orgânico, incluiu o sofá curvo e a mesa pétala, de Zalszupin, que também assina as poltronas Annettes do ambiente. Fechando a conversação de forma magistral, a poltrona Jangada foi disposta ao lado da lareira.

Detalhe para a tela de Maria Anita Luzatti e para a florestinha de árvores entalhadas em madeira, do artista Zé Bento. Por falar em madeira, detalhe também para o painel em ripas que esconde ou revela um bar/café. “É um momento surpresa. Quando está fechado, você nem imagina o que há ali”, diz. Do lado oposto, onde está a TV, a madeira se repete, também ripada, mas em um delicado móvel horizontal.

A ideia de integração ficou ainda mais conceituada com o sofá ilha, que funciona tanto para o lado da TV, quanto para o estar. Um projeto de sutilezas e delicadezas, como o oratório com desenho de Dado Castelo Branco, para Ethel, disposto no hall de entrada.

FOTOS: Jomar Bragança

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