O tempo não para

Projeto da Mobio Aquitetura mostra que patrimônio, história e tecnologia devem coexistir em espaços corporativos voltados para desenvolver ideias inovadoras

Insta: MOBIO ARQUITETURAINSOLE

Berço de importantes centros de inovação, a cidade de Recife é considerada já a alguns anos o Vale do Silício Brasileiro. Criado em 2000, com início das atividades no ano seguinte, o Porto Digital tem atualmente quase 15 mil pessoas trabalhando em startups e empresas concentradas em 171 hectares na capital pernambucana. É nesse ambiente frenético, que mistura ainda a história da cidade e sua cultura, que um edifício centenário de mais de 15000m2 foi revitalizado para receber a empresa Insole, com infraestrutra que reverbera sua identidade dinâmica. O projeto arquitetônico de ocupação é da Móbio Arquitetura.


Patrimônio, história e tecnologia coexistem em espaços amplos com estações de trabalho abertas, áreas de descompressão, varandas, espaços variados para diálogos e reuniões que favorecem a interação e contribuem para a resolução de problemas com criatividade e para o desenvolvimento de ideias inovadoras.

O prédio de quatro pavimentos e estilo eclético estava abandonado há décadas e foi completamente recuperado com base no projeto original, resgatando a escala altimétrica das fachadas, os vãos de acesso em arco e os ornamentos originais. 

Entre as estratégias de intervenção, optou-se por evidenciar seus aspectos ambientais e construtivos sem grandes intervenções de infraestrutura, mantendo os pés-direitos originais sempre que possível, assumindo tubulações aparentes, por vezes evidenciando resquícios e marcas do edifício centenário. Por reconhecer a importância da memória e materialidade do antigo, essa camada histórica foi preservada, sobrepondo a ela outra camada contemporânea de organização e tecnologia.

O projeto de ocupação do edifício apresentou uma série de aspectos a serem compatibilizados, como a organização dos diversos setores da empresa e a criação de espaços de uso comum que permeiam todos os pavimentos e favorecem o coletivo.

A análise criteriosa de cada pavimento foi fundamental para a distribuição das funções no edifício. O mezanino por exemplo é um andar que apresentava pé direito baixo em diversos lugares pelas vigas robustas existentes, assim como menos aberturas de ventilação natural. Por isso foi ocupado com espaços de usos mais provisórios e de transição, como salas de reunião e um pequeno auditório multiuso.

A divisão das salas de reunião foi feita com divisórias de perfil de alumínio e vidro, aproveitando a modulação criada pelas vigas existentes no espaço. Para criar um filtro de privacidade às salas foi desenvolvida uma solução que além da funcionalidade dialoga com o repertório visual da energia solar. Foram utilizadas persianas verticais coloridas cuja alternância ritmada e gráfica criou um degradê inspirado em mapas de calor. Cada sala tem uma cor diferente de forma a facilitar a reserva e identificação por funcionários e visitantes.

O auditório multiuso foi planejado como um espaço vibrante e dinâmico, para a realização de treinamentos e cursos, apresentações, atividades de grupos. Por isso foi proposto um layout mutável viabilizado pelo mobiliário versátil composto por arquibancadas móveis, cadeiras empilháveis, quadros com rodízio e pufes modulares encaixáveis. 

Já o segundo pavimento apresentava dois salões maiores de pé-direito alto e muitas aberturas, configurando espaços apropriados para maior permanência como as áreas de trabalho em planta aberta, que tiram proveito da iluminação natural. 

Um dos salões estava com a alvenaria descascada da reforma interrompida e os tijolos de barro da alvenaria antiga foram deixados aparentes para evidenciar a natureza construtiva do edifício, destacada pela iluminação embutida no barrado branco e arandelas de luz rebatida. 

Para garantir ambientes acústicos confortáveis sem utilização de forro foram usadas estratégias como o uso do carpete sobre o contrapiso existente e a criação de nuvens acústicas direcionadas às mesas, com variedade de composições como os conjuntos de triângulos defletores e a composição circular / axial do outro salão que aliada a estratégia de iluminação remete ao sol ou à energia em expansão.

Apesar de ser um andar voltado sobretudo às estações de trabalho, foram criados pontos de uso comum e coletivos como as cápsulas de micro reuniões que permite fazer chamadas ou pequenos encontros assim como a copa amarela que é totalmente aberta, configura mais um lugar de encontro e atende as demandas de infraestrutura do pavimento.

No terceiro e último andar, junto a mais um setor de trabalho, foram concentrados os espaços de uso comum mais amplos como a descompressão, que contempla área de jogos e mobiliário informal, como sofá e arquibancada  para fazer uma pausa, jogar ou reunir espontaneamente. Também foi considerada uma copa maior com equipamentos e mesas de alimentação, além de uma cafeteria com infraestrutura completa.

Ainda neste pavimento destacam-se as varandas ambientadas pelas copas das árvores existentes com uma intervenção sutil de iluminação e bancos móveis apoiados em trilhos sobre a mureta em prol da otimização de espaço e possibilidade de flexibilizar os pontos de ocupação, além de mesinhas de refeição,  apoio para momentos de descompressão, happy hour e descanso. 

Alinhado à premissa de sustentabilidade da Insole, a energia consumida pelo edifício provém da transferência de energia da usina solar pertencente à empresa, uma Clean-Fintech dedicada à difusão da energia solar de forma inovadora. No projeto foi previsto uma estação de carregamento para carros elétricos, a ser instalado na calçada como item de gentileza urbana. O edifício fica num aconchegante trecho de rua fechada para carros e priorizado para pedestres, com comércios próximos que favorecem e potencializam a relação do mesmo com o espaço público.

A equipe da Mobio é formada pelos arquitetos Gabriel Castro e Lorena Vaccarini, tem como colaboradores Mauro Augusto, Joyce Lemos, Pedro Medeiros e Amanda Castilho.A parceria no projeto luminotécnico contou comThais Cedrolla e o projeto de sinalização é do Estúdio Triciclo e Gustavo Magno. Projeto de restauro feita pela NGPD; obra do projeto corporativo feita por Solução Construção e obra de restauro feita pela Quality empreendimentos.

Fotos gentilmente cedidas pela Mobio Arquitetura

DESTAQUES

Ouça nossas playlist em

LEIA MAIS

Puro zelo

Respeitoso projeto de reforma assinado por Joana Hardy em apartamento do Edifício Niemeyer é tão precioso quanto a construção icônica.

Mistura Fina

Projeto do escritório Casa Tereze para apartamento em São Conrado, no Rio, une a bossa carioca com a alma mineira

Arte entre muitas camadas

Ana Claudia Almeida impacta tanto com a solidez quanto fluidez de seus trabalhos, sucesso em galerias brasileiras e no exterior

plugins premium WordPress