Coletivo de mulheres mostra sua força em trabalho para o ambiente de Assis Ribeiro e Marcus Vinícius na CASACOR Minas
Insta: Bioarquitetar – Arquitetura na Periferia – Casacor Minas – Studio Arquitetônico – Vidpunkto
A Taipa tem como materiais principais a terra, a utilização de chapas de compensado (taipas) e o pilão. É reconhecida por ser durável, de alto conforto termoacústico e mais sustentável que métodos convencionais. De aplicação plural, resgata sensorialmente a afetividade e o aconchego de moradias ancestrais.
A novidade de que um dos ambientes da CASACOR Minas 2021 espelhou a técnica a partir do reuso de materiais remanescentes de outras obras edificadas no terreno do Palácio das Mangabeiras, onde o evento acontece esse ano já é uma boa história. Mas a cereja do bolo é saber que esse processo foi feito pelas mãos de mulheres, que se conheceram e reconheceram na bioconstrução, enquanto profissionais e parceiras de trabalho – mesmo dentro de um mercado com pouca presença feminina.
“Fomos chamadas só pra realizar um trabalho de revestimento, mas quisemos revolucionar, fazer uma equipe feminina, além de dar destaque ao reuso de materiais. Estávamos dentro de um ambiente que poderia ser hostil para muitas de nós, mas nos sentimos todas empoderadas. Foi muito marcante, mostrou a força do coletivo, do envolvimento no trabalho”, comenta Paula Peret da escola de construção de baixo impacto ambiental – Bioarquitetar.
Paula, a geóloga Lívia Chaves, a arquiteta e urbanista Marcela Ary, Mariana Borel, Carla Renata e Fabíola Hoffman, do projeto Arquitetura na Periferia são as mulheres desse coletivo. O trabalho delas reutilizou placas de drywall, que foram incorporadas ao reboco fino e finalizadas com resina não sintética e óleo de linhaça – tecnologia inovadora elaborada pela equipe de execução especificamente para o projeto e que conferiu vida ao resultado final.
A ideia da equipe e de Marcela Ary, arquiteta e integrante que desenvolveu a fórmula pioneira do revestimento natural foi pautada no princípio da restauração, que tem como base a reforma e formatação de novos cenários por meio da recuperação de elementos originais ou por substituições, sem que altere a essência. Das construções de alto luxo até moradias mais modestas, a versatilidade, beleza, autenticidade e personalização da Taipa de Pilão distingue cada parede como uma verdadeira peça de arte.
A terra de diferentes tonalidades utilizada no revestimento das paredes foi coletada pelas próprias mulheres. O ambiente em que é possível conferir esse trabalho, na CASACOR Minas 2021 chama-se Espaço Conviver e é assinado pelos arquitetos Assis Ribeiro e Marcus Vinícius, do escritório Studio Arquitetônico.
Certo dia, o orientador de mestrado de Paula Peret comentou com a arquiteta que ela não conseguiria unir a bioarquitetura à construção de interesse social, enquanto a bioconstrução não fosse destacada em um cenário de algum personagem rico. O que professor disse ainda faz sentido, já que no imaginário de muitas pessoas, esse tipo de construção está relacionado a algo precário ou rural e por isso ainda há tanta resistência em usá-lo. Um evento como a CASACOR não é uma novela, mas mostrar um projeto que envolve bioconstrução em seu processo é de um valor imenso.
Materiais usados no processo: reboco fino de terra, areia, retalhos de drywall, gessocola, resina a base de água, cola PVAA e óleo de linhaça.
FOTOS
– Da construção: gentilmente cedidas pelos arquitetos
– Dos arquitetos: Barbara Dutra
– Do projeto concluído: Jomar Bragança