Nada convencional

Para arquiteta Isabela Vecci, móveis e objetos não poderiam ser destituídos de história e isso ela sabe fazer com maestria

Insta: Isabela Vecci Vecci E Lansky Arquitetura

Onde será que a arquiteta Isabela Vecci busca inspiração para os móveis que desenha? Os caminhos são diversos, mas uma coisa é certa: embora conheça muito sobre o assunto e frequente a feira de Milão, considerada a meca do design, ela nunca pesquisa outros móveis para criar os seus. Não acha isso adequado.

“Você sabe, tudo já foi feito, né? Há milhões de variações no mercado”, diz a profissional mineira. No trabalho que realiza, Isabela navega por outras esferas e procura estabelecer uma relação com diversificados conhecimentos. Pode surgir a partir de um livro de literatura, ou de filosofia, pode vir da própria matéria, como a pedra sabão, por exemplo e também de outros fazeres, como a joalheria, que sempre a seduziu. Nesse caso, especificamente, vai interessar a ela assimilar as diferentes lapidações e cravações das pedras. “Nunca é muito em cima só do mobiliário”, revela.

O certo é que a produção multidisciplinar da profissional não passa pelo convencional. Isabela tem no currículo projetos de produto para as mais diversas áreas e também assina projetos e cenografias para exposições, projetos de interiores e de arquitetura para espaços residenciais, comerciais e culturais no Brasil e no exterior, todos eles marcados com a digital da personalidade da autora.

Seu envolvimento com o design se manifestou antes mesmo dela entender o que viria agregar com potência à sua carreira. Formada em 1988, ela fez poucos estágios quando era estudante, mas, durante o curso de arquitetura, trabalhou por dois anos em uma estamparia, onde adquiriu conhecimentos que utiliza até hoje, no desenvolvimento de design de superfície. Outra inspiração para os móveis que cria? As estampas, ora pois.

Na visão de Isabela, os móveis e objetos não poderiam ser destituídos de história. Um bom exemplo é a linha Memória Mobília, lançada em 2011, baseada na ideia de habitar como uma forma de “estar no mundo” e nas cidades. Para ela, criou móveis que brincam com a escala. Alguns deles são uma réplica do Edifício JK, construção emblemática projetada por Oscar Niemeyer em Belo Horizonte, em 1960.

“O design é a escala reduzida da arquitetura e comecei a desenhar móveis pela ansiedade de fazer coisas, pois é mais rápido que construir algo”, comenta a profissional, que já apresentava o mesmo conceito em coleções anteriores, feitas para a loja que criou quando se formou. Batizada com o nome Size, ela tinha como proposta produzir peças adequadas a pequenos ambientes. “Isso foi em 1994. Naquela época, percebemos que não havia oferta no mercado de móveis para espaços reduzidos”, lembra. A questão que balizava o trabalho de Isabela desde o começo era: como tornar a vida das pessoas melhor através do mobiliário?

À pergunta sobre quais as diferenças entre o arquiteto que desenha móveis e o designer de produto que desempenha a mesma função, ela diz que acredita que há uma maneira de pensar que difere ambos. “Costumamos relacionar o que fazemos sempre com a arquitetura. Seja na questão formal dos móveis, como no próprio uso. Quando crio um móvel imagino como uma pessoa vai descansar nele, como vai ver a janela a partir dele e se ao deitar vai ver o telhado. É uma linha de pensamento. A minha ligação com o mobiliário é arquitetônica desde o começo”.

Atualmente, Isabela está desenvolvendo uma nova coleção para a Líder, para a qual deixou aflorar o conhecimento que vem do seu início de carreira: a experiência no desenho de superfície, com inspiração em grafismos. Será lançada na São Paulo Design Weekend 2021, em outubro. A DW! é um festival urbano que tem o objetivo de promover a cultura do design e suas conexões com arquitetura, arte, decoração e urbanismo.

Antes disso, o público vai conhecer o trabalho que ela desenvolveu para o projeto Território Pampulha, que será lançado no dia 20 de agosto, no Mercado Novo, em Belo Horizonte. Nele, Isabela apresenta duas propostas, que seguem diferentes linhas de pensamento. A primeira aponta para o campo da fenomenologia e do elemento água como inspiração, fazendo uma aproximação do material com a percepção do local. A segunda é formada por cinco mesas que partem do desenho de superfície, inspiradas nas fotografias do franco-brasileiro Marcel Gautherot (1910 – 1996) feitas da região da Pampulha nos anos 1940. Nas peças, elas viraram um desenho pop em cores contrastantes. O resultado, como em todas as criações de Isabela Vecci, mais uma vez, é admirável

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