Lina e o futuro

Livro sobre produção de design de mobiliário de Lina Bo Bardi mostra a genialidade e sensibilidade de uma mulher multifacetada

Insta: SÉRGIO CAMPOSPÉ PALITO VINTAGEARTEMOBILIA

Lina Bo Bardi. Arquiteta, designer, editora, curadora, cenógrafa, entre outras tantas atividades, mostrou desde pequena seu talento para as artes. O pai engenheiro e pintor ensinou-lhe o desenho e ela com ele que praticava, pintando a guache e aquarela desde os 10 anos de idade.

A arte e a inovação estão presentes em tudo o que fez. E, entre o que Lina criou, o pioneirismo conceitual da rica produção de design do mobiliário modernista assinado por essa mulher multifacetada está reunido na obra literária “Lina Bo Bardi Designer, O Mobiliário dos Tempos Pioneiros 1947/ 1958, do curador e galerista Sérgio Campos. O livro será lançado hoje, na Galeria Pé Palito Vintage.

A cadeira do MASP 7 de Abril, assinada por ela, por exemplo, influenciou decididamente a primeira geração de designers modernos, como Sergio Rodrigues, que tanto a admirava. Uma cadeira que já traz elementos da nossa cultura popular, como o assento em couro de sola selvagem costurada com barbante, a moda das vestimentas dos povos do sertão, além de ser dobrável e empilhável, como as populares cadeiras dos circos itinerantes.  

Muito além de seu tempo, ela criou móveis que diferiam de tudo que já havia sido produzido no Brasil e no mundo e eram encomendados por clientes e arquitetos visionários, como Vilanova Artigas, Rino Levi e Gregori Warchavchik.

Em plena era atômica, Lina Bo Bardi utilizou materiais vernaculares e totalmente inusitados na concepção de muitos dos seus móveis, como sola de couro selvagem, cordas náuticas, conduítes elétricos, cunhas de carro de boi, compensado de pinho, entre vários outros.  O livro procura mostrar como esta leitura e atitude reverberou profundamente entre os designers contemporâneos, como os geniais Irmãos Campana.

O livro também aborda a editoria de Lina na revista Habitat, referência fundamental entre as publicações ligadas à cultura e arquitetura no século XX no Brasil, espaço em que assume o compromisso com temas que a acompanharão em toda sua trajetória profissional, em seu país de escolha.

Um capítulo é dedicado à lendária Casa Bittencourt, em São Paulo, residência da família de Mario Taques Bittencourt, que a encomendou ao arquiteto Vilanova Artigas e que, por sua indicação, foi mobiliada com peças autorais do Estúdio Palma, em 1950. Trata-se de um projeto único que teve a felicidade em reunir o que se tinha de mais vanguardista na arquitetura e no design modernos. Após 70 anos, o mobiliário original foi encontrado, restaurado e reinserido na casa para um inédito ensaio fotográfico por Sergio Campos, o autor. 

O ineditismo é uma das marcas registradas da obra literária que oferece generosa documentação nunca publicada, boa parte proveniente dos arquivos do Instituto Bardi/Casa de Vidro, do qual o livro conta com o apoio institucional.

O segundo volume do livro, a ser lançado, tratará do mobiliário que Lina Bo Bardi criou para sua Casa de Vidro, em 1951, a internacionalmente famosa Bowl Chair, também chamada por Lina como “Tijela”, bem como os móveis que desenvolveu no período em que viveu na Bahia e aqueles especialmente desenhados para o Sesc Pompeia. 

FOTO DE CAPA – Cadeira de corda, 1948. Foto: Sergio Campos

FOTOS GENTILMENTE CEDIDAS PELA EDITORIA DO LIVRO

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