Humana paisagem artificial

Da arquitetura à moda, do design à culinária, através do excesso de referências, Helder Profeta cria obra humana e individual.

Insta: HELDER PROFETA

Coincidência ou não, enquanto começo a me concentrar em frente ao computador, na minha playlist está tocando Maior Abandonado, um dos maiores hits de Cazuza: “Me interessam pequenas porções de ilusão, mentiras sinceras me interessam, me interessam”, repete a música. Na minha cabeça está a experiência de ter ido recentemente à casa ateliê de Hélder Profeta, as conversas que tivemos, o passeio pelas obras de arte dele e de outros importantes nomes que fazem parte de seu acervo. Instantaneamente penso que pequenas porções de ilusão e mentiras, desde que muito sinceras, sempre fizeram parte de sua investigação criativa.

Profeta estudou na Escola Guignard por sete anos, onde se especializou em desenho e escultura, mas certamente o convívio intenso com as mais diversas manifestações artísticas, quando foi assessor do espaço Itaú Cultural, em Belo Horizonte, por cerca de 10 anos, frutificou em obras para as quais continua utilizando os mais variados suportes.

Sua produção começou em 1995, quando realizou a primeira individual no Palácio das Artes, em Belo horizonte, e nunca mais parou. A experiência com o digital já fazia parte de seu dia a dia ainda nessa época. Se o desenho a traço livre veio inaugurar sua pulsão pela arte, a máquina logo se tornou um importante instrumento para que ele fosse impresso. “Creio que a parte mais preciosa do meu trabalho está ligada às paisagens artificiais. Meu mote é criar com coisas artificiais o que não é nada artificial, a arte”, comenta o artista, que já participou da SPArte, em São Paulo e também de feiras de arte contemporânea e Lisboa e Madrid.

Ele conta que desde sempre buscou uma mistura de materiais e técnicas que representassem o ambiente, seja o ambiente da casa, o ambiente natural, ou os espaços construídos pelo homem.  “O que me surpreende nesse meu trabalho, nesse contexto todo tão extenso é que todas essas questões se fundem. Assim, minha casa vira arte, a arquitetura que vejo pelas ruas, a natureza, a montanha, os espaços de convivência, tudo se funde. Tudo está ligado e conectado e toda essa representação pela conexão me interessa”, diz.

A casa ateliê onde Helder Profeta vive é um capítulo à parte, uma construção de 1942, localizada no bairro Concórdia, um dos mais antigos da capital mineira. O artista lembra que, no final da década de 1990 e início dos anos 2000 o endereço era ponto de encontro, quase um centro alternativo de arte, onde críticos, curadores, artistas e galeristas se reuniam para festas, bate-papos e exposições. Por lá passaram vários nomes importantes da arte brasileirao como Carlos Vergara, Rosângela Rennó, Rodrigo Moura, Walter Sebastião, Fernando Cocchiarelle, Adriano Pedrosa, Cao Guimarães, José Bento, Arthur Barrio, Patrícia Leite, Léo Brizola, só para citar alguns. Conexões humanas para quem aprendeu que o natural, o artificial, ou seja, tudo o que é parte, está sempre conectado.

Mergulhando um pouco mais nas paisagens artificiais

No trabalho de Profeta, as imagens manipuladas no computador geram uma metamorfose de técnicas: fotografia vira desenho, desenho digital vira gravura, a gravura vira uma matriz que não se reproduz, a plotagem dialoga com o desenho, ou então, vira uma gravura digital. “Crio possíveis assimilações e deixo para o espectador a definição final; é ou não é desenho?

É uma gravura? Um quadro com luz? É um objeto ou uma mesa?

Ao chamar seus trabalhos de paisagens artificiais, o artista busca nomear uma nova maneira de observar o que já está aí. A paisagem artificial, elaborada por ele, não é formada de arvores, rios, plantas, animais, montanhas, mas, sim, por objetos da cultura contemporânea, artifícios da era do visual. Muitas vezes seu trânsito se limita aos cômodos da casa ou a espaços inventados, ou recriados a partir de imagens retiradas na internet.

Ele tem uma atração especial por tudo que é ainda mais industrializado: plástico, acrílico, vidro, vinil adesivo, impressões digitais e back ligths, onde até a luz é usada como artifício. O artista mergulha num mundo de imagens que vai desde o design de objetos e móveis à arte final da comunicação visual e suas tipografias, passando pela moda, arquitetura, design, paisagismo, culinária e o que mais for usado como recurso para seduzir pela aparência. Da arquitetura à moda, do design à culinária, através do excesso de referências, Helder Profeta cria obra humana e individual.

FOTOS: ACERVO DO ARTISTA

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