Semana Santa em Ouro Preto, das mais belas expressões da religiosidade e da cultura de Minas, este ano acontece online
A Semana Santa, que este ano começou no dia 28 de março, com o domingo de Ramos e termina no próximo domingo, dia quatro de abril, com a celebração da Páscoa, encontra em Ouro Preto uma das mais belas expressões da religiosidade e da cultura de Minas Gerais. A cidade inteira se mobiliza para as celebrações. Nas imagens desta matéria é possível conferir um pouco da beleza que envolve a cidade histórica mineira em um momento mágico. Este ano, entretanto, devido à pandemia e às restrições da onda roxa decretada pelo governo do Estado, as celebrações serão internas, sem a presença de fiéis, presididas pela paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias e, devido à pandemia e às restrições da onda roxa decretada pelo governo do Estado, serão internas e sem a presença de fiéis.
Para o prefeito Angelo Oswaldo, essa é a época do ano em que Ouro Preto mais ressalta suas características culturais únicas. “Somos um Santuário barroco com tantas igrejas, capelas, passos e referências religiosas por toda a parte, mostrando que há 300 anos, a cidade vive intensamente a fé e a cultura. Este ano, em função da pandemia, não teremos as grandes liturgias, os grandes rituais nas ruas e ladeiras do Município, mas no interior das nossas igrejas, essas cerimônias vão acontecer e serão transmitidas para todos. Isso é muito importante porque nós estamos resistindo e mantendo viva uma grande tradição de arte e de fé, de religiosidade e de cultura. Por isso, Ouro Preto continua sendo Ouro Preto, um dos pontos mais importantes da cultura brasileira no que diz respeito à história e à arte do nosso país”.
“O princípio que usamos para preparar a Semana Santa deste ano é o de fazer a celebração completa, sem cortar nenhum ato. Embora acompanhando à distância, estamos dando ao nosso povo a oportunidade de rezar um pouco mais, de refletir um pouco mais, de colocar o seu sofrimento nas mãos do Senhor”, relata o padre Edmar José da Silva, pároco e reitor do Santuário de Nossa Senhora da Conceição.
As principais cerimônias começaram na quarta e quinta, dias 31 de maço e 01 de abril e continuam hoje, com a sexta -feira santa, sábado santo e domingo de Páscoa, na igreja de São Francisco de Assis, obra prima do Aleijadinho e do mestre Ataíde.
Paralelo aos eventos religiosos, as tradições da Semana Santa serão lembradas. “A Semana Santa é uma das maiores e mais esperadas festividades do ano. Ouro preto é um cenário belíssimo para todos os eventos desta celebração, que este ano não poderá contar com a presença de fiéis e turistas. Vamos mostrar todas as cerimônias religiosas, desde o Setenário das Dores até o domingo da Ressurreição. E, em produções já gravadas que serão exibidas pelas redes sociais da Prefeitura, vamos lembrar também a tradição das matracas, no seu toque silencioso e choroso pela Paixão de Cristo; o Anjo simbolizando a ressurreição de Jesus Cristo; o toque da banda em sua lamúria ou no encantamento de sua música festiva no domingo da Páscoa, além de todas as manifestações em torno da Semana Santa, como os tapetes devocionais, os anjos de prata e a confecção de amêndoas. Vamos possibilitar que o cidadão esteja em casa e participe do evento”, destaca a secretária de Cultura e Patrimônio, Margareth Monteiro.
O secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Rodrigo Câmara, reforça a importância dessa celebração em meio à crise mundial que vivemos. “No ano de 2020, em virtude da pandemia, não tivemos as celebrações da Semana Santa de Ouro Preto. Este seria o segundo ano consecutivo sem este evento que é um dos mais aguardados da cidade. No que diz respeito à tradição, arte e perpetuação cultural, é uma perda enorme. Dessa forma, em caráter de homenagem silenciosa, desenhamos essa ação que pretende levar beleza e leveza para uma população sofrida, exaurida e cansada de tanta notícia ruim e tristeza”.
Ações externas e silenciosas
Ações externas, que respeitam os horários, protocolos e medidas de segurança sanitárias vigentes no Estado: a partir de domingo, 28 de março, um tablado com uma cruz foi instalado na Praça Tiradentes e fica no alteamento até a segunda-feira, dia 05 de abril, quando será desmontado. A cruz receberá símbolos e paramentos seguindo as cores litúrgicas; algumas casas receberão toalhas coloridas de acordo com a liturgia; os Passos ficarão abertos no Domingo de Ramos, são eles: Passo na rua Getúlio Vargas – Rosário; Passo da Ponte Seca; Passo na Praça Tiradentes, Passo do Antônio Dias; no sábado de aleluia, no período diurno, serão produzidos tapetes de serragem nos seguintes pontos: Adro da Igreja de São Francisco de Assis; Trecho em frente à Casa de Gonzaga; Alteamento da Praça Tiradentes; Largo e adro da Igreja do Rosário; Adro da Igreja do Pilar.
Na última segunda-feira, dia 29 de março, teve início a exposição virtual sobre a Semana Santa em Ouro Preto e a exposição da Santa Ceia (séc. 19), gentilmente cedida pela Paróquia do Pilar. A Santa Ceia, completa e em tamanho real, ficará exposta na Casa de Gonzaga, enquanto passará por restauro. Serão exposições virtuais, que irão até meados do mês de maio quando, se possível, for permitida a visitação presencial dentro dos protocolos sanitários exigidos. A Casa de Gonzaga, sede da Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio, recebeu anjos em sua sacada anjos que ficam iluminados à noite, compondo o cenário da cidade.
A programação completa da Semana Santa pode ser conferida no site da Prefeitura: www.ouropreto.mg.gov.br.
Toalhas nas janelas
As toalhas são utilizadas como uma ornamentação nas janelas das casas coloniais de Ouro Preto durante a passagem das procissões, como um sinal de respeito e devoção. Essa é uma tradição portuguesa passada às colônias. Em Ouro Preto, há registros desse costume desde o século XVIII.
Os tecidos de cor vermelha são geralmente utilizados para o Domingo de Ramos, pois faz referência à cor da nobreza, indicando que Jesus entrou triunfante em Jerusalém, aclamado como Rei. Já a cor roxa é utilizada na Quinta e na Sexta-feira Santa, simbolizando a paixão. No Domingo de Páscoa são as toalhas de cores claras e rendadas, principalmente o branco, lembrando a ressurreição de Cristo.
Como começou a tradição dos tapetes na Semana Santa de Ouro Preto:
Alguns cronistas, ainda no século XVIII, registraram a suntuosidade das celebrações religiosas em Ouro Preto. Naquele período, os locais que formavam o caminho das procissões eram adornados com flores e folhagens, uma maneira de reverenciar as imagens sacras e o Santíssimo Sacramento, que por ali passariam.
O Triunfo Eucarístico foi um exemplo de como eram os preparativos para as festas religiosas em Ouro Preto, no século XVIII. Essa celebração marcou a inauguração da Matriz do Pilar, em 24 de maio de 1733. No ano seguinte, 1734, Simão Ferreira Machado publicou um pequeno livro, em Lisboa, descrevendo este acontecimento na cidade. Em razão de naquele período haver abundância de ouro na cidade, a Igreja realizou um espetáculo com opulência. Junto aos sacerdotes, seguiram os fiéis pertencentes às irmandades vestidos com trajes de gala. O chão das ruas entre a Igreja do Rosário e a Matriz do Pilar foi coberto de flores e folhagens, enquanto as janelas das casas do trajeto receberam sedas, tecidos com bordados, com detalhes em alto relevo, além de adornos de ouro e de prata.
Já no século 20, em 1963, quando Nossa Senhora do Pilar foi escolhida como a Padroeira de Ouro Preto, os tapetes voltaram a ser feitos anualmente, na noite do Sábado Santo, para a procissão do Domingo da Ressurreição. Porém, para substituir as flores e folhagens, o material utilizado foi serragem tingida, que, a partir daí, passou a ser utilizada até os dias atuais. Hoje, a serragem é distribuída aos moradores pela Prefeitura de Ouro Preto. Alguns fiéis ainda acrescentam nos tapetes materiais como farinha de trigo, pó de café, palha de arroz, couro e cal.
Assim, como manda a tradição, na madrugada do Sábado de Aleluia, a população e turistas se unem para dar forma aos famosos, tradicionais e artísticos tapetes que colorem e enfeitam as ruas da cidade, para a passagem da Procissão da Ressurreição, no Domingo de Páscoa, e dessa forma, contribuindo com o encantamento que essa celebração gera em moradores e visitantes do mundo todo.
Antes da pandemia, celebrações sempre coloriram Ouro Preto
Na sexta-feira santa, é relembrada a Paixão e morte de Jesus Cristo. Para os devotos, é um dia de jejum, abstinência, silêncio e oração. Os sinos não são tocados em sinal de luto e respeito, mas as matracas chamam a atenção da população para o sofrimento de Jesus, lembrando as pancadas que o pregaram na cruz.
As celebrações ocorrem ao longo de todo o dia. Logo pela manhã acontece o “Sermão das sete últimas palavras do Divino Redentor na cruz”, que relembra e propõe uma meditação sobre as últimas falas de Jesus pregado na cruz.
A Igreja celebra a hora sagrada em que Jesus Cristo padeceu pela nossa salvação. Sendo assim, a matriz responsável realiza a Solene Ação Litúrgica: Liturgia da Palavra, Adoração do Cristo na Cruz e distribuição da Santíssima Eucaristia.
Ao cair da noite acontecem os preparativos para um dos momentos mais aguardados pelos fiéis: o Descendimento da Cruz e a procissão do Enterro. Às 19h em frente à igreja tem início a apresentação das figuras bíblicas, na qual cada personagem da Bíblia é apresentado aos presentes e lembrado por sua importância na vida de Jesus.
Às 20h, no mesmo local, acontece o “Sermão do Descendimento da Cruz”. Quando a imagem do Senhor Morto é retirada da cruz e segue para a Procissão do Enterro – fúnebre, silenciosa e solene – até a igreja de Nossa Senhora do Rosário, acompanhada pela imagem da Virgem Dolorosa.
Procissão do Fogaréu:
A Procissão do Fogaréu ou Procissão das Endoenças, que não acontece há mais de um século, foi resgatada historicamente na Semana Santa em Ouro Preto e marcou as celebrações de 2018, na cidade. As pesquisas sobre a procissão foram feitas pela Igreja, que incentivou a realização deste ritual.
Logo após a cerimônia de lava-pés, os fiéis sairão da igreja, com tochas, lampiões e velas acesas, em direção à igreja de onde sairá a imagem de Jesus Flagelado rumo à próxima igreja do percurso.
Durante o cortejo, os fiéis poderão depositar pedidos de oração em um cesto, principalmente pela recuperação da saúde de algum enfermo. Na chegada da procissão na Igreja, em que finaliza o roteiro, esses pedidos serão incinerados, simbolizando a súplica dos fiéis a Jesus para que tenha piedade de todos.
Domingo da Páscoa ou da Ressurreição
O dia amanhece alegre no Domingo de Páscoa, pelo triunfo de Jesus, que vence a morte e o pecado e volta à vida. Às 7h é celebrada a Missa Festiva, na matriz responsável pela festividade. Em seguida, os fiéis seguem na Procissão da Ressurreição, conduzindo o Cristo vivo e ressuscitado, presente no Santíssimo Sacramento, até a igreja do percurso.
Para representar essa exaltação da vitória, as ruas são ornamentadas com coloridos tapetes de serragem, por onde a Procissão da Ressurreição passará, ao som do repique dos sinos. À chegada, no Rosário, bênção solene do Santíssimo Sacramento e missa.
À noite, às 19h é celebrada Missa Solene, com coroação de Nossa Senhora em seu triunfo e canto do “Te Deum”, encerrando as celebrações da Semana Santa.
Fotos: Ane Souz