Arte milenar de produção de cerâmica: queima no Tatu, forno de Adel Souki, é um acontecimento na Serra da Moeda
Insta: Adel Souki
Quem é ceramista sabe: participar de uma queima é um acontecimento. É como se fosse uma comemoração de aniversário. A região da Serra da Moeda, MG, guarda uma tradição milenar da fabricação de cerâmica, transmitida para artesãos locais principalmente por Toshiko Ishii, ceramista de família japonesa, dona da Fazenda Palhano. A ceramista Adel Souki, artista e pesquisador do barro, conviveu com Toshiko por 20 anos em Moeda.
Adel estudou muito antes de construir seu forno Anagama, técnica datada de antes do ano 1.000 no Japão. Nele, a queima é coletiva, uma oportunidade para quem participa do processo se dar tempo para discutir sobre cores e formas, observar o calor, a queima e um passar conhecimento ao outro. A característica desse forno é que o esmalte das peças é feito pelas cinzas, durante a queima.
Recentemente, Adel produziu a 37ª fornada de peças em uma queima que contou com a participação de integrantes do Departamento de Artes Visuais da UFMG, conhecido como Grupo de Pequisa do Barro, que estuda cerâmica e tem aprofundado suas pesquisas sobre esse forno. O da ceramista Adel Souki ganhou o apelido de Tatu, por causa do formato. Em vídeo, gravado no dia queima, a artista conta sobre as características da cerâmica produzida em Minas, mostra como é o processo da queima, o tipo de argila usada, a intensidade das chamas, componentes das cinzas e a lenha utilizada que também influencia no resultado final das peças, além de contar sobre o aprendizado com Toshiko. “O processo de fazer cerâmica demanda mais gente. Para ajuda física e para o que se quer atingir em arte. Estar aqui, no ateliê em meu sítio, no Palhano, é muito prazeroso. Às vezes me preparo durante seis meses para receber uma turma, e vamos ficar de quatro a cinco dias só falando de lenha, de arte…”, comenta Adel no vídeo.
Antes da queima, foram necessários 10 dias de preparação, posicionando as peças no forno de forma estratégica. Depois, nesse último processo, a queima ininterrupta foi de de 77 horas. É um processo intenso, em que o coletivo precisa ter uma sintonia muito grande para entender o que o forno está dizendo, o que o momento está pedindo e cada uma dessas escolhas vai refletir no resultado, quando o forno se abre e as peças são retiradas. “A felicidade de estar aqui, passando tudo o que eu vivi e tenho aprendido até hoje, me faz realizada. Poder sonhar com cores, com formas, com belas cerâmicas e poder passar isso tudo que eu sei para que outras pessoas continuem esse belo caminho é o que me dá prazer”, comenta Adel Souki. Como foi dito no começo desse texto, quem é ceramista sabe: participar de uma queima é um acontecimento, que envolve um conhecimento tão tradicional, milenar e duradouro.
Integrantes do grupo que participaram da queima
Adel Souki / Artista ceramista e pesquisadora do Grupo de Pesquisa do Barro UFMG
João Augusto Cristeli / UFMG
Juliana Gouthier Macedo / UFMG
Márcia Norie Seo / UEMG
FOTOS: Leliane De Castro e Leonardo Melo