Projeto da Pinacoteca Contemporânea comunga com a ideia de que a arquitetura de um museu deve ser acolhedora e acessível
Insta: PINACOTECA – ARQUITETOS ASSOCIADOS
Como serão os museus do futuro? Há lições importantes no novo livro de András Szántó, que conversou com 21 arquitetos sobre como a arquitetura de museus está se moldando. Entre os entrevistados estão Paula Zasnicoff e Carlos Alberto Maciel, membros dos Arquitetos Associados, que já projetaram alguns dos mais celebrados edifícios de artes visuais do Brasil, incluindo vários no Instituto Inhotim e, por último, o recem inaugurado Pinacoteca Contemporânea, anexo ao museu de arte Pinacoteca de São Paulo, realizado em parceria com Silvio Oksman.
Para Paula Zasnicoff, o resultado do Pina Contemporânea vai de encontro ao que outros profissionais de sua área estão pensando mundo afora, ao acreditar que a arquitetura de um museu pode se misturar perfeitamente com ambientes naturais e sociais.
Em contrapartida aos museus grandiosos e imponentes, irradiando autoridade institucional e com arquitetura condizente, uma geração de líderes de museus começou a entender que era necessário abri-los para um público maior e mais inclusivo. Os arquiteots também começaram a imaginar museus mais acolhedores e acessíveis, aqueles que estão intencionalmente enraizados em suas comunidades e ambientes urbanos ou naturais.
Essas ideias estão no livro de Szántó. Há um trecho em que ele diz: “Os arquitetos estão realinhando intenções e métodos, aproveitando as conquistas do passado para criar espaços culturais inclusivos que possam atender o momento. No geral, a arquitetura do museu está se afastando das convenções de design do museu como uma igreja secular, mas ainda aspirando transmitir sua relevância em uma linguagem que não seja tão sagrada ou hierárquica.”
Ele continua: “De uma forma ou de outra, esses arquitetos estão trabalhando para encontrar um equilíbrio frutífero entre admiração e humildade. Eles querem criar estruturas que insistam na vitalidade do museu como uma instituição cívica única e necessária a serviço da arte e da sociedade, ao mesmo tempo em que acomodam todos os segmentos de público. Na melhor das hipóteses, essa nova arquitetura de museu atua como parceira da museologia emergente do século 21.”
Paula Zasnicoff conta que o projeto do Pina buscou essa essência do que deve ser um museu contemporâneo. “O projeto valorizou espaços sustentáveis, democráticos e abertos e é muito conectado com a vida local. A proposta foi a de trazer a vida cotidiana para dentro dele, recebendo as pessoas de maneira agradável e memorável, tornando a cultura e os acervos acessíveis para todo tipo de público”.
Além do Arquitetos Associados e Silvio Oksman, o projeto da Pinacoteca Contemporânea alinhou o diálogo com as equipes do museu, como um equipamento articulador de escalas, equipamentos, experiências e tempos históricos. Há quase 30 anos, Paulo Mendes da Rocha e Eduardo Colonelli executaram a reforma da Pinacoteca Luz a partir de um princípio básico: a reorientação do prédio, que originalmente se abria para a avenida Tiradentes e agora deveria se voltar para a Estação da Luz e para as múltiplas conexões urbanas que ela permite.
No projeto de então, a cobertura translúcida possibilitou a ocupação de novos espaços do edifício, ao mesmo tempo que criava um espaço inovador para a arte contemporânea: o Octógono. Nele, pela primeira vez, muitos artistas brasileiros puderam conceber trabalhos em grandes dimensões, pensadas para aquele ambiente específico e que precisavam de proteção do tempo e das intempéries.
O projeto dos Arquitetos Associados guarda semelhanças e diferenças com a reforma da Pina Luz. Também se trata da intervenção em construções preexistentes: a restauração do edifício principal da Escola Prudente de Morais abriga a biblioteca, uma das mais especializadas em arte brasileira do país, o centro de documentação e as reservas técnicas. A reconstrução do pavilhão com seus característicos arcos criou uma nova Galeria Praça, além dos ateliês para desenvolvimento de programas educativos e a loja.
Entre esses prédios, o chão foi cavado para dar lugar à Grande Galeria, com 1000m2 de espaço expositivo. Para acessá-la, uma rampa suave desce da rua Ribeiro de Lima, articulando efetivamente o museu ao bairro Bom Retiro. Nesse declive surgem arquibancadas, espaços de estar, que também podem dar lugar a audiência de shows e outras atrações. Sobre a Grande Galeria, uma nova cobertura translúcida e um mezanino alinham os volumes históricos, estabelecendo uma praça sombreada, lugar de estar e contemplação, onde podem ser expostas esculturas de grande porte e de onde se acessa o parque, o edifício Luz e, mais uma vez, o transporte metropolitano.
A Pinacoteca Contemporânea conta com certificação ambiental Leed Silver, reconhecendo a eficiência do método construtivo, o uso de materiais sustentáveis, o aproveitamento de energia solar e a captação de água de chuva, entre outros. A grande cobertura de madeira na praça central, que explora a luz filtrada, foi feita em madeira laminada colada, estrutura de fonte renovável e de origem certificada.
“Sustentabilidade é hoje uma palavra de ordem e ninguém pode mais ignorar isso, especialmente em um museu. A ideia de utilizar um espaço pré-existente, o transformando e qualificando, bem como a de utilizar um espaço da cidade que já tem uma estrutura, o que potencializa o uso de transporte público é muito importante. Também introduzimos bicicletários em pontos fundamentais e tomamos outras medidas importantes nesse sentido”, comenta Zasnicoff.
O paisagismo da Pina Contemporânea foi assinado por Felipe Fontes.
FOTOS – GUILHERME SIDRIM