Uma casa que mora

Projeto da Balsa Arquitetura, de Paulo Augusto e Sarah Floresta mostra como é possível pulsar vida em todos os ambientes

Insta: Balsa Arquitetura

Conversando com o Paulo Augusto, da Balsa Arquitetura, ele me disse que seu escritório costuma ser procurado por clientes que, geralmente, repetem a mesma vontade, mesmo que dita de diversas maneiras: “Quero uma casa que mora, não quero uma casa onde ninguém vive.” Achamos esse desejo tão semelhante ao que procuramos mostrar aqui no TENDÊNCIAS, que resolvemos começar esse texto com essa ideia.

E entre os projetos do Paulo Augusto e da Sarah Floresta, os dois arquitetos à frente da Balsa Arquitetura, escolhemos um que concretiza essa ideia. Um apartamento, com planta quadrada, de três quartos, sendo um suíte, cuja fração maior é ocupada pela área social. No original, essa parte da casa era toda fragmentada. Uma grande demolição de paredes integrou estar e jantar com a cozinha, o que permitiu que, no dia-a-dia, os moradores se comuniquem com facilidade.

A melhor parte dessa história foi procurar dar protagonismo à área de cocção. Assim como é muito usado nas “casas de antigamente”, principalmente do interior mineiro, o fogão foi colocado em ponto estratégico. A partir dele, se tem um domínio geral da casa e é em torno dele que tudo acontece.

Ao refazer o layout, o piso em parket foi preservado, embora em nova diagramação. A divisão também permitiu um piso mais adequado para a área molhada. Os arquitetos optaram por uma base branca para o ambiente social, nas paredes, estante e também no piso da cozinha.

Para organizar os ambientes, a estante linear abriga TV, aparelhagem multimídia e, de frente para ela, foi disposto um painel branco e a estante que funciona como bar. O painel, que avança um pouco pela sala, cumpre a função de resolver a rouparia da área íntima.

O ponto de fuga da sala é um preservado móvel que está incorporado à família há muito tempo e que, se falasse, poderia contar histórias e mais histórias. Trata-se de uma cristaleira com espelho por dentro. “Sempre que possível agregamos alguma peça que tenha valor afetivo para os moradores e procuramos trabalhar contrastes entre moderno e antigo, entre o rústico e o minimalista, além de buscar uma pegada mais industrial.

Essa pegada está, por exemplo na estrutura metálica que recebe o mobiliário, matéria que também compõe o balcão da cozinha, preto, com vedações em marcenaria, uma solução para deixar a peça mais leve, soltando-a do chão. Está também na coifa que faz parte da ilha de cocção, compondo a cena com organicidade.

Mesa e cadeiras são peças que já faziam parte da história dos moradores e a opção do sofá modular, bilateral, foi pensada para permitir uma maior flexibilidade. Dividido em dois módulos soltos, esse sofá pode mudar de configuração de acordo com a ocasião. Pode inclusive, abrir espaço para que a sala se transforme em uma pista de dança. Aliás, algo que costuma acontecer com frequência.

Com duas varandas, uma oposta à outra, o projeto transformou a maior, com vista privilegiada, em área de descontração e descanso e a outra, menor e conectada com o bar, serve de espaço de apoio, abrigando, inclusive, uma churrasqueira.

A obra de arte escolhida para compor o ambiente social é assinada por Juliana Gontijo, da galeria Murilo Castro. E o verde está presente em vasos na estante e na varanda, que costumam “passear” de um canto para outro, conforme a época do ano. Eventualmente, no inverno, elas mudam de posição e a varanda ao fundo ainda funciona como um “hospitalzinho” para as mais necessitadas.

Na suíte, a estratégia de layout solucionou a posição da cama, já que não a queriam nem debaixo da janela, nem de costas para a porta. A proposta a colocou centralizada, utilizando um anteparo que serve como cabeceira e ainda divide o espaço, que assim ganhou um pequeno closet. O verde escuro predominante do ambiente foi uma escolha arriscada que acabou funcionando muito bem na vida do casal, proporcionando conforto e convidando ao repouso, criando uma cena mais intimista. Em uma das paredes, um rasgo serve como uma linha de luz que emoldura os quadros.

Os banheiros têm uma estética minimalista, mais objetiva, de acordo com sua função. Como se quisessem interferir o mínimo possível, mas com o máximo de carinho.

FOTOS: Henrique Queiroga

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