Conceito e paixão: uma dobradinha perfeita

Acostumada a ser frequentada por pessoas cheias de estilo, celebridades e formadores de opinião, a Zótika é um exemplo de que conceito e qualidade se aplicam a tudo, do projeto de arquitetura da loja, ao produto e também ao atendimento exemplar ao cliente, que oferece.

Insta: @zotika

É comum ver uma construção, uma pessoa, uma paisagem e não conseguir extrair nada além do imediato. Acontece quando vemos, mas não enxergamos. No ver, não há mediação, nem conexão. Há ansiedade de ver. Olhar é uma experiência única, individual.

Pois é exatamente essa experiência que o empresário Thiago Maia propõe em sua loja, a Zótika. Até o nome já entrega essa diferença: óticas são procuradas por um sem número de pessoas que querem ver melhor com os próprios olhos. Embora seja muito nobre essa função, a Zótika não se presta somente a ela, vai muito além.

Um conceito que começou com o pai, José Antônio Maia, proprietário da lendária ótica Metrópole, que abriu suas portas com uma proposta totalmente inovadora na década de 1980. O pensamento muito bem formatado foi passado adiante, contagiando toda a família com a mesma paixão.

O projeto enfocado aqui é o da filha caçula, a Zótika que está localizada na 5ª Avenida, uma galeria situada no bairro Savassi, em Belo Horizonte, em bem distribuídos 60 m2. Feito em 2017 pela arquiteta Suzana Teixeira para a loja que existe desde 20006, ele não poderia ser mais atual. A fachada, em pastilha de vidrotil, é preta com cinza, e foi inspirada na marca desenvolvida pelo escritório Greco Design. Na testeira, o vidrotil desenha, utilizando esses dois tons, a mesma imagem que está na sacola e no cartão de visita, que simula a evolução dos óculos.

De cara, esse visual pode causar um certo estranhamento, já que são poucos os modelos de óculos expostos na vitrine, o que vai na contra-mão da maioria das óticas. Em pequenos nichos, uma ou, no máximo, duas peças, num total de nove ao todo, de estilos variados, percorrem os 12 metros da fachada. Mas não se engane, tudo isso foi milimetricamente pensado para ser assim. A intenção, segundo Thiago explica, é o cliente ver, perceber que ali é um lugar diferenciado. A intenção é surpreender.

Mesmo que de forma sutil, até mesmo a fragrância da loja faz parte dessa estratégia: um cítrico amadeirado formulado por uma empresa de marketing olfativo. As mesas de atendimento, quatro ao todo, também fogem do padrão: são individualizadas. A intenção é proporcionar um atendimento personalizado. São todas em madeira freijó, com cadeiras de design assinadas por Jáder Almeida, alternando tom cru e o vermelho.

Para o acompanhante, ou para quem espera o atendimento, há ainda três poltronas cheias de estilo: duas Atibaia, do Paulo Alves e a venerada Paulistano, de Paulo Mendes da Rocha. É importante salientar que esse projeto privilegia o design brasileiro, bem como as obras de arte: uma tela do arquiteto e artista Humberto Hermeto, em que pregos fazem alusão a um rosto de óculos, uma obra de arte de Adão Iturrusgarai e, no fundo da loja, um móbile inspirado em Calder, do mineiro Eduardo Amado.

Um gaveteiro com portas, em madeira, ocupa a parede principal inteira, de fora a fora. Situado logo abaixo de uma vitrine em laca na cor açaí, que sobe a parede até o teto. É nele que ficam guardadas as preciosidades: uma infinidade de óculos em que o design e a qualidade saltam aos olhos mesmo antes de serem experimentados. O piso é em peroba do campo e à iluminação limpa e indireta soma-se uma direcionada, feita por pendentes em cima das mesas. Por fim, paredes em madeira contrastam com outras pretas. Chama a atenção ainda o móvel com gavetinhas, da loja Pé Palito, desenvolvido especialmente para a loja e uma cerâmica assinada por Marli Mattos.

A inspiração do projeto vem de ateliês de óculos europeus, que costumam ter poucas peças expostas, dando ênfase não só na qualidade oferecida, mas na excelência do atendimento ao cliente. “Não é só uma questão estética. Nosso foco é prestar uma consultoria, fazer uma anamnese técnica para depois mostrar o que é conveniente para cada cliente. Todos os detalhes fundamentais para essa escolha são pensados, como o detalhe do septo da pessoa, o grau, o estilo e uma série de variáveis”, comenta Thiago. Só depois desse primeiro contato é que os modelos de óculos são oferecidos, detalhe, em badejas com divisórias para que apenas seis peças sejam apreciadas de cada vez, o que favorece o direcionamento do atendimento, segundo Thiago.

O empresário, além do curso técnico de ótico, investe em cursos de atendimento personalizado e muitos outros, como o que fez na Marangoni, em Paris, focado em mercado de luxo. “Não basta ter óculos bonitos que não cumpram a função que é a de enxergar bem, ou o contrário: enxergar bem, usando óculos que não te favorecem. O que me fascina é isso: aliado ao design, à pegada visual, ver quando a gente colabora para melhorar na produtividade de uma pessoa por causa de um acessório bem escolhido”, diz.

Obra-prima

Tão fascinante quanto a proposta da Zótika é o fato de que o carro-chefe entre os óculos oferecidos é a marca Capolavoro que, traduzido do italiano para o português, significa obra-prima. No caso dos óculos Capolavoro, significa o pensamento arrojado de seu criador, o empresário José Antônio Maia, o pai de Thiago, que sempre teve a ideia de fornecer algo diferente do que era ofertado pelo mercado. Foi o que fez, ao abrir a Metrópole nos anos 1980, uma loja ímpar, diferente de tudo o que havia na cidade. Foi o que fez também ao decidir ter uma marca própria, registrada, de óculos que não se intimidam com tendências ou modas. São óculos atemporais, de conceito.

No princípio, a reprovação de pessoas do ramo foi geral. Afinal, porque produzir óculos se já existe tanta oferta no mercado?, diziam. Mas José Antônio foi em frente e hoje, a Capolavoro, exclusiva das lojas Metrópole e Zótika (que tem dois endereços) é referência para uma infinidade de pessoas, entre celebridades, profissionais e pessoas (in)comuns, que procuram alternativas – de qualidade e personalidade –  ao que é produzido em larga escala. É o caso, por exemplo, da cantora paulistana Mônica Salmaso, que impreterivelmente, toda vez que vem a Belo Horizonte com sua agenda de shows, encontra um tempinho para se deliciar com os modelos da Capolavoro. A identificação é tanta, que ela virou a primeira embaixadora da Zótika, que este ano completa 35 anos. Outros nomes como Ronaldo Fraga, Fernanda Takay e muitos, muitos outros, só tecem elogios ao produto.

O design de cada peça Capolavoro é desenvolvido em família. Quem assina é José Antônio e também os filhos, Daniel e Thiago. Um trabalho tão bem feito que é comum um cliente de alguma das lojas da família, mesmo quando está com uma peça importada (sim, eles também representam poucas e boas marcas europeias) e alguém elogia, já respondem: é da Zótika, sem se importar se a marca é importada ou famosa. Famosa, sim, e no bom sentido, é essa família, à qual a mulher Rute e a outra filha, Renata também se juntam à equipe. Viagens para feiras e ateliês são sempre feitas em conjunto e o gosto pelo fazer é unânime entre eles.

Fotos: Álvaro Fráguas

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