A harmonia do avesso

Sinuoso, moderno e imponente por fora, Edifício Niemeyer, por dentro, mostra projeto primoroso assinado por Sarah James e Felipe Soares

Insta: Sarah JamesFelipe Soares

Morar em residências projetadas por consagrados nomes da arquitetura moderna pode ser o sonho de muita gente. Às vezes, só imaginar como é por dentro uma dessas construções já pode ser uma viagem. Mas bom mesmo é saciar a curiosidade e conhecer os detalhes. Um desses prédios que causa impacto direto não só em quem mora em Belo Horizonte, mas também em quem visita a cidade, é o Edifício Niemeyer.

Datado de 1954, ele é uma, dentre tantas outras maravilhas erguidas na capital mineira que levam a assinatura do mestre Oscar Niemeyer. Este em especial foi batizado com o ilustre sobrenome do autor. Localizado na mais importante praça de BH, bem próximo ao palácio do governo do Estado de Minas Gerais, ele faz conjunto com diversos outros grandes exemplares da arquitetura local, no que é conhecido como o “Circuito Cultural da Praça da Liberdade”. Este circuito engloba todos os prédios situados ao redor dessa grande praça, dos quais o Niemeyer é o mais alto e o único residencial.

Com 10 pisos, o prédio aparenta ser mais alto do que realmente é, já que suas marquises em ondas são em número maior que as lajes dos apartamentos, já que há uma marquise a meia altura que divide em dois, o vão de cerca de três metros de altura de piso a piso.

Quando visto de longe o edifício exibe outro efeito peculiar, provocado pelas fatias de concreto armado: suas janelas quase desaparecem, permitindo que a estrutura ondulada crie um conjunto muito coeso e uniforme graças à grande repetição. Essa fachada harmônica adota um padrão de listras horizontais, que ganham dinamismo e personalidade graças ao formato orgânico da planta baixa. Fluidez e flexibilidade talvez sejam as palavras-chaves para expressar a planta e soluções tipológicas criadas por Niemeyer.

Quando visto por dentro, as surpresas são outras, mas não menos encantadoras. O que ilustra esta matéria tem projeto feito por jovens arquitetos contemporâneos, Sarah James e Felipe Soares, para uma colecionadora de arte.

A iluminação anterior no teto foi substituída por arandelas nas paredes, permitindo um teto limpo, sem interferências. Um dos cômodos foi integrado à sala, criando um ambiente à parte, e é dele que a proprietária, que mora sozinha, gosta de ficar observando a praça. Há ainda um hall galeria usando preto ao fundo, onde fica uma coleção de arte sacra.

Nas paredes, a coleção de obras ganhou novas companhias, somando algumas telas contemporâneas às mais tradicionais e permitindo destaque de algumas delas. Nos móveis, o projeto assume o mesmo movimento, acrescentando aos que já estavam no imóvel, a maior parte antigos, outros de design dos anos 1960, assinados por Sérgio Rodrigues, Ricardo Fasanello e também dos irmãos Bouroullec, além de mesas, objetos e outras peças que contribuem para a fluidez e a harmonia dos ambientes.

O living tem vista para dois lados: para a praça e do outro, para a serra do Curral. As curvas da sala de jantar já indicam que é ali que ela deve estar e as lindas janelas do piso ao teto são divididas pelos breezes horizontais que caracterizam a arquitetura externa e vazam para a parte interna, servindo de apoio para as peças de arte sacra.  Apesar do predomínio das paredes e teto branco, impressiona o domínio da cor nesse projeto, sempre utilizada como se já fizesse parte do conjunto desde sempre. Ela se repete do living à cozinha, dos quartos aos banheiros, com equilíbrio e naturalidade.

FOTOS: Jomar Bragança

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