Quase um conto

Trabalho da artista paulistana Sonia Menna Barreto traz sempre uma história por traz da imagem pintada, em um jogo lúdico

Insta: SONIA MENNA BARRETO

O trabalho de Sonia Menna Barreto diverte e emociona o observador através de uma espécie de diálogo lúdico e bem-humorado que ela estabelece em suas criações. 

“Quando alguém olha para o meu trabalho e sorri, isso implica em dizer que entenderam ao menos uma porção do seu significado e que eu alcancei a minha meta. Há sempre uma história por trás da imagem, pintada na forma de um conto e há quase sempre uma situação engraçada, contada com humor. Escolhi o surrealismo e o trompe l’oeil como estilos, que são os veículos para chegar à esta estrada”, comenta.

Seu espírito criativo buscou terras e personagens que habitam a imaginação das pessoas de todas as idades. Sua técnica origina-se nos pintores flamengos do século XV, misturando hiper-realismo com minúcias da técnica francesa do Trompe L’oeil. 

Sônia Menna Barreto nasceu em São Paulo e, 1980, começou a frequentar o ateliê do artista Luiz Portinari, irmão de Cândido Portinari, no Centro de Artes Cândido Portinari, período em que mergulhou na vida artística.

Depois do contato com os trabalhos de Max Ernst, De Chirico, Magritte e Paul Delvaux, a obra de Sônia tomou a direção do Surrealismo, fase decisiva para sua carreira, passando a desenvolver seu lado intimista e criativo, solucionando os problemas técnicos e temáticos por conta própria, sem o acompanhamento de professores.

Sônia diz que a maleabilidade da pintura a óleo lhe oferece a possibilidade de “desenhar” com o pincel aquilo que foi pensado como imagem. “Ver a tela tomando vida pouco a pouco, me traz muita alegria. Se não fosse assim, como conviver com mais de dez horas diárias de pintura?”, diz.

Sua arte tem início bem antes do momento em que o pincel se aproxima da tela, que é preparada com cambraia de linho ou linho puro, tecido que ganha várias camadas de gesso que depois são lixadas com vigor até ficar como um mármore liso, pronto para receber qualquer sugestão de textura.

As tintas também são preparadas por ela: a partir das industrializadas, elas são acrescidas de aglutinantes, que permitem que ela crie sua própria gama de cores, uma variação da técnica flamenga.

A ideia do tema para o original surge no que ela chama de fase “emocional”. “Pode vir de um livro que li, de uma viagem que fiz, uma peça de teatro – algo que me toque e emocione”, revela. Para cada tema pensado, Sônia leva dias estudando a ideia, compondo, pesquisando imagens, cores, tirando fotos.

Ao final de mais ou menos quatro dias o desenho está pronto para ser passado à tela, junto com o estudo das cores – cada objeto já tem a sua cor definida anteriormente, fase em que o quadro é mais “cerebral”.

“Entre a fase emocional, cerebral e o tempo que levo para terminar um original, vão-se mais de cinquenta dias, às vezes até mais”, analisa a artista. “Fazendo-se uma conta básica, se não tirar férias, num ano conseguiria criar de seis a oito obras originais, muito pouco para quem quer ter o seu trabalho cada vez mais conhecido e divulgado”, explica.

Esse dilema surgiu há muitos anos: se por um lado ela havia conseguido alcançar uma boa valorização, tendo poucos originais “circulando” no mercado, tinha também dificuldade em divulgar mais o que fazia. 

Em meio a essas questões, Sônia participou de uma feira de arte em Nova York em 1991, que abriu seus horizontes. “Comecei a fazer serigrafias e depois as impressões na técnica giclée, tendo como base as minhas obras originais, o que me trouxe uma abertura para outros países e uma divulgação maior, que era exatamente o que eu buscava e dificilmente conseguiria só com os originais”, conta. 

Anos mais tarde, nessa mesma feira, Sônia despertou para o licensing de imagens e resolveu dar um foco seletivo a seus trabalhos: fazer licenciamentos que realmente agregassem valor à sua carreira e ao seu original.

Assim, Sônia mantém hoje seus originais no seu próprio ritmo e, através das gravuras e do licenciamento, consegue difundir mais seu trabalho e torna-lo viável a quem não tem o poder de compra de um colecionador de arte.

Seu viés surreal e onírico, seus contos em forma de imagens estão também em porcelanas, gravuras, giclées, esculturas e outras peças.

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