Memória e intuição

Na Z Foundation Art, do mineiro Zemog, ingredientes etéreos ganham vida e transformam tudo o que já foi em arte

Insta: ZEMOG

O nome é Z Foundation Art. O endereço? Um apartamento térreo retrô, construção dos anos 1930, com espaços generosos, localizado no bairro de Santa Teresa, no Rio. É lá que o artista Zemog desenvolve suas criações, é lá também que mostra seu trabalho ao mundo. A visitação deve ser agendada e é feita com hora marcada. De uma semana para outra, tudo pode mudar. “Faço exposições temporárias, o trabalho vai girando, mas tem sempre essa questão museológica com o que apresento”, comenta.

Aos 60 anos, com 40 de produção artística, Zemog já expôs em galerias, participou de coletivas, mas sempre gostou de ter o seu espaço independente. “É interessante, porque o trabalho é que vai me dando uma direção, abrindo portas e janelas. É o que faço que traz as pessoas aqui”, comenta.

No final do dia o resíduo no estúdio é mínimo. O que estava em volta acabou ganhando novos signicados e virando arte. É nessa hora que Zemog gosta de sentir o cansaço físico do trabalho em um ateliê onde lida com martelo, alicate, serrote e outras ferramentas rudimentares. “Aqui é um espaço analógico, não tem nem wi-fi”, brinca.

No final do dia há também o poente. Nada mal para quem mora a cinco minutos a pé ali, no mesmo bairro, numa casa virada para o leste, com vista para a baía da Guanabara. “Lá de casa dá para ver o nascer do sol e da lua, o ateliê é onde o sol se põe. Brinco que faço o circuito leste oeste”.

Para Zemog o exercício criativo não é algo que se explica, pode ser o momento, o agora, essa coisa de sair do leste e ir para o oeste, quando pode acontecer uma revolução interna ou não acontecer nada. Há 20 anos o artista começou a juntar tampinhas de refrigerante e de cerveja, sem ter a menor ideia do que aquilo iria virar. Hoje, fieiras de tampinhas de até 3 km estão em vários lugares do mundo.

“A coisa vai acontecendo e a vida vai te mostrando.  De repente, no meio do processo há uma surpresa que já te abre outras possibilidades. Gosto do fazer manual” conta, lembrando que em sua cidade natal, São Domingos do Prata, em Minas, gostava de ver o serralheiro, o sapateiro, o celeiro trabalhar.

Como diz o texto de Leonel Kaz, “o que importa em Zemog é a mais completa e absoluta transformação de tudo o que já foi – na memória do tempo e dos que passaram –  dando a este “tudo o que já foi” uma forma e uma aura de pura, filtrada, claríssima intuição. Zemog coleta coisas que estão no mundo, como filipetas de jogo do bicho, palitos de fósforo riscados e antigos retratos de passageiros do Zeppelin, e faz delas uma outra coisa”.

Atualmente, ele está trabalhando na série Mumificantes, na qual utiliza a técnica de mumificação, para envolver em bandagens camisetas, rádios, pássaros de madeira. O fascínio que o Egito Antigo exerce no artista pode até ter sido o mote, mas há muito mais coisas entre o céu de Zemog e a paisagem que o circunda. Tanto, que a primeira coisa que resolveu mumificar foi uma garrafa de espumante. A partir daí, pelo menos por enquanto, não parou mais. Como diz o dramaturgo Samuel Beckett, ‘os objetos têm vida própria’. Se depender da narrativa da arte na vida de Zemog, sim, eles têm.

IMAGENS DE ACERVO GENTILMENTE CEDIDAS PELO ARTISTA

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