La Biennale di Venezia

Pavilhão do Brasil tem curadoria fora do eixo Rio/SP e é feita pelos mineiros do Arquitetos Associados e Henrique Penha

Insta: Arquitetos AssociadosBienal De Veneza

Como viveremos juntos? A pergunta, formulada antes do advento do Covid em nossas vidas e eleita como tema geral da 17 Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia ganha contornos ainda mais intensos com os desafios impostos pela pandemia.

How will we live together? Proposto pelo arquiteto e acadêmico Hashim Sarkis, curador geral desta edição da Mostra, o tema nos leva à reflexão de como devem ser os espaços onde as pessoas possam, de fato, viver juntas. É também um incentivo aos arquitetos convidados a envolverem outros participantes em seus projetos, sejam artistas, construtores, cientistas sociais ou os próprios cidadãos, uma forma de retomar o papel do arquiteto como organizador e zelador de um contrato espacial comum à sociedade como um todo. Para além da pandemia, o atual contexto de polarização política e de crescimento da desigualdade econômica em escala global, por si só, dão ainda mais evidência a esse desafio.

Não há respostas imediatas para como esse contrato espacial será formulado. No Pavilhão Brasil, por exemplo, o projeto a ser apresentado conta com uma exposição que dialoga com o tema e também é motivada pela urgência, no mundo contemporâneo, de se pensar em utopias. A curadoria, que pela primeira vez na Mostra sai do eixo Rio/São Paulo, foi feita pelos profissionais mineiros do Arquitetos Associados – composto pelos arquitetos e urbanistas Alexandre Brasil, André Luiz Prado, Bruno Santa Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff – e do designer visual Henrique Penha.

 “A ideia de utopia perpassa vários momentos da história do pensamento e da produção do espaço brasileiro, muito antes da própria criação da palavra por Thomas More em seu conhecido livro. Transportar e ressignificar esse conceito como um dispositivo para abordar o contemporâneo é o que procuramos fazer ao construir a narrativa curatorial”, explica Carlos Alberto Maciel. Batizado de ‘utopias da vida comum’, o projeto parte do mapeamento da presença das utopias em solo brasileiro, desde a cosmovisão Guarani da Terra sem Males até a contemporaneidade, destacando entre eles dois momentos singulares em que ideias transformadoras promoveram ou têm o potencial de promover mudanças significativas no modo como a arquitetura e a cidade podem fomentar novas alternativas para a vida comum.

Serão dois núcleos, expostos nas duas salas que constituem o Pavilhão do Brasil. A sala menor abriga o núcleo Futuros do passado, dedicado a dois projetos icônicos da arquitetura moderna e às utopias que os orientaram, realizados entre o fim do Estado Novo e os anos JK (1946 e 1961). Um deles, o então inovador Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (zona norte do Rio de Janeiro), de 1947, foi interpretado a partir das lentes da artista visual Luiza Baldan. Mais conhecido como “Pedregulho”, o Conjunto de autoria de Affonso Eduardo Reidy é um dos maiores empreendimentos de habitação social dos anos 1940.

Esse núcleo conta ainda com o ensaio do fotógrafo Gustavo Minas sobre o cotidiano da Plataforma Rodoviária de Brasília (1957), de Lucio Costa, obra singular construída no encontro dos dois eixos em forma de cruz que constituem o Plano Piloto da capital federal. E também completam o conjunto, os registros arquitetônicos de Leonardo Finotti e Joana França. O que se busca com essas imagens não é apenas apresentar a arquitetura das obras, mas também a maneira como foram ocupadas. Justapõem-se, assim, as ideias que orientaram os projetos dessas duas construções à realidade de suas ocupações.

Já na sala grande, o núcleo que se chama Futuros do presente vai exibir dois vídeos inéditos, comissionados especialmente para a Bienal de Veneza, que refletem utopicamente sobre a ocupação das metrópoles contemporâneas. Em ambos, são mostradas novas formas de convivência e interação do homem com o espaço.

O primeiro deles, dos diretores Aiano Bemfica, Cris Araújo e Edinho Vieira, apresenta as possibilidades de reapropriação de edifícios nos centros de grandes metrópoles. O segundo vídeo, do diretor Amir Admoni, faz uma interpretação poética da ideia de apropriação dos rios e de suas margens concebida pelo projeto Metrópole Fluvial – proposta em 2010 para a cidade de São Paulo pelo grupo de pesquisa de mesmo nome da Universidade de São Paulo –, que questiona o modelo de transporte rodoviário adotado para a metrópole e aponta novas alternativas para a vida cotidiana.

A 17ª  Mostra Internacional de Arquitetura – La Biennale di Venezia acontece de 22 de maio a 21 de novembro de 2021

Fundação Bienal de São Paulo

A prerrogativa da Fundação Bienal de São Paulo na realização da representação oficial do Brasil na 17ª Mostra Internacional de Arquitetura de Veneza é fruto de uma parceria com a Secretaria Especial da Cultura, responsável pelo desenvolvimento da política de intercâmbio cultural do país. “A realização das representações brasileiras neste espaço de prestígio que são as Bienais de Arte e Arquitetura de Veneza é vital para a promoção do patrimônio cultural do Brasil no exterior, uma das preocupações centrais da Secretaria Especial da Cultura”, afirma Mario Frias, Secretário Especial da Cultura. É um reconhecimento à excelência do trabalho da Fundação Bienal de São Paulo, a outorga da realização do projeto.

Sobre o Pavilhão do Brasil

Sobre o Pavilhão do Brasil Construído em 1964 a partir de um projeto de Henrique Mindlin e mantido pelo Ministério das Relações Exteriores. Para José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, “as representações nacionais em Veneza são ocasiões privilegiadas para compartilhar, com outros países, a força da produção artística e arquitetônica brasileira contemporânea”.

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