Com projeto de Gustavo Penna e sinalização da Greco Design, Memorial Brumadinho vai além da proposta de preservação da memória
Insta: Memorial Brumadinho – Gustavo Penna

É sempre uma emoção confusa quando visitamos um memorial que narra, com sua construção, uma tragédia da vida real. Confusa porque mistura na gente o horror do que foi vivido ali, a um carinho e atenção dedicados ao espaço construído em homenagem às vítimas e suas famílias enlutadas.



O Memorial Brumadinho, inaugurado seis anos após o rompimento da Barragem da Mina Córrego do Feijão, que tirou a vida de 272, traz essa avalanche de sentimentos. O projeto arquitetônico é do escritório Gustavo Pena Arquitetos Associados e a sinalização, da Greco Design. Uma composição que “simboliza a força e a fragilidade da vida, acolhendo a dor e a transformando em um ato de resistência contra o esquecimento”, nas palavras de Gustavo Penna. Mais do que um espaço físico, é uma forma de resistir ao apagamento do tempo e da história.



O projeto do GPAA foi escolhido em votação pelos familiares das vítimas. Ele contempla um bosque 272 ipês-amarelos, uma escultura-monumento, um espaço meditativo e salas de exposição que guardam relatos e objetos relacionados à tragédia. Há também um espaço reservado para a guarda digna de segmentos corpóreos das vítimas, resgatados ao longo das buscas.



Além de espaço de memória, o Memorial Brumadinho se propõe a fomentar projetos educativos e de pesquisa e, para isso, tem um centro de estudos interdisciplinares em áreas como meio ambiente, geografia, arquitetura, direito e história, promovendo reflexões sobre os desdobramentos do desastre.


Classificado como um memorial in situ, ou seja, construído no local do evento, assim como o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, e o Memorial 11 de Setembro, em Nova York, o Memorial Brumadinho surgiu da mobilização dos familiares das vítimas, que protocolaram no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) a proposta para a criação de um parque memorial, em maio de 2019.



Misturados ao arvoredo original, onde o Memorial foi construído, os 272 ipês amarelos ali plantados trazem uma simbologia especial: são árvores que florescem quando a seca aperta e nos mostram que, apesar de tudo, a vida continua.


A metáfora está também na cuidadosa sinalização assinada pela Greco Disign. Recortada em metal e iluminada, a flor do ipê se repete ao longo de um percurso de 230 metros, em direção ao rompimento: uma flor para cada vítima – elas se acendem como uma espécie de procissão que testemunha o ocorrido, de forma inapagável. Em aço Corten, os equipamentos de sinalização mimetizam as formas, as vistas e os ângulos do projeto arquitetônico e mostram o caminho de maneira quase silenciosa.

Uma tipografia exclusiva, inspirada nos tipos cravados em pedra, frequentes em espaços de memória, foi criada em parceria com a Blackletra. A tipografia “Brumadinho” tem suas versões com serifa, sem serifa e ALMA.

FOTO DE CAPA – Foto: Leo Drumond – Nitro