Fios da meada contemporânea

Depois de atuar como arquiteta, Carolina Kroff chama a atenção para sua tapeçaria contemporânea de parede

Insta: Carolina KroffBarbara BarbiCasacor Minas

A arte de tecer tapetes, que está intimamente ligada à arte de tecer de modo geral, é uma prática milenar e até hoje encanta pelas histórias que narram e também pelas novas propostas que surgem de tempos em tempos. Se na Europa medieval a tapeçaria era a principal forma de arte decorativa, sendo muito usada como mecanismo eficaz de autopromoção dos poderosos da época, hoje ela ganha outros contornos.

Tanto o conhecido estilo Aubusson como as transformações estéticas e sociais que ocorreram ao longo dos séculos são parte dessa teia que tem nos apresentado novos representantes dessa arte pelo mundo e no Brasil também.  Aqui, nomes como o do designer Sérgio Matos, internacionalmente reconhecido por desenvolver um trabalho com a identidade do regionalismo brasileiro, somam-se novos talentos.

É o caso da carioca Carolina Kroff que, aos 34 anos, desenvolve o que chama de “tapeçarias contemporâneas de parede”. À personalidade criativa, desperta ainda criança, quando fazia seus próprios brinquedos, cenários e casas para suas bonecas, ela acrescentou novos conteúdos, estudando História da Arte e Desenho e, mais tarde, ao cursar arquitetura e urbanismo, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Há cerca de três anos, depois de atuar em projetos de arquitetura e interiores, foi convidada para desenvolver peças exclusivas para vitrines de conhecidas marcas cariocas de moda. Começava assim sua imersão na tapeçaria, que, a princípio, se relacionava aos temas das coleções.

Ao se deparar com a escassez de informações práticas do gênero “wallhanging” (no bom português, peças decorativas em tecido usadas sobre a parede), Carolina se dedicou ao estudo de materiais e ao desenvolvimento de técnicas de maneira autodidata, criando sua própria base de conhecimento para a obtenção de cores, nuances, formas e texturas. Foram oportunidades que trouxeram à tona a sua capacidade singular de laboração e seu impulso genuíno de artista.

Além das vitrines da moda no Rio de Janeiro, ela foi conquistando cada vez mais visibilidade. Criou um perfil no Instagram para a sua marca e apostou no marketing digital. Em pouco tempo, seu trabalho alcançou profissionais de arquitetura e clientes qualificados, que ao compartilharem suas impressões, passaram a multiplicar seus esforços de maneira orgânica. Seu trabalho foi notado pelo arquiteto Léo Shehtman, que o enxergou como inovador e coerente com a sua linha de atuação, pautada predominantemente na contemporaneidade e pela elegância de suas composições.

Ela foi convidada para expor uma de suas peças na CASACOR São Paulo 2020 e, na mesma época, conheceu artistas da by Kamy, como Kiko Maldonado, e suas vertentes de atuação. Um encontro de valiosa troca de referências que culminou mais à frente em um convite para a elaboração de uma coleção a ser exposta em na maior feira de design do mundo, o Salão do Móvel de Milão.

A coleção especialmente desenvolvida por Carolina Kroff para a byKamy exala brasilidade, com suas cores que retratam a natureza e as paisagens do Brasil. Carolina transforma a fibra de algodão, matéria-prima largamente produzida no país, em plano de fundo para receber a sua arte. Um único fio de algodão trabalhado é arte por si só, que em conjunto às centenas e milhares de outros fios transformam-se de artefato comum ao nosso cotidiano para forma de expressão, força e beleza.

Fazem parte dessa trama as combinações de texturas, cores, sombra, luz e profundidade, que inspiradas na riqueza e complexidade da nossa cultura e, mescladas à geometria e racionalidade da arquitetura, representam e transbordam a identidade do nosso povo.

Seu trabalho está também no ambiente assinado pela arquiteta Barbara Barbi na CASACOR Minas 2021 e confere ainda mais personalidade ao projeto. “O que mais me deixa deslumbrada desde a concepção digital do desenho ao momento em que tinjo os fios, os arrumo e dou forma à imagem, é quando vejo a peça se desdobrar em novas interpretações. As camadas sobrepostas me surpreendem, saltando aos meus olhos como figuras”, comenta Carolina. A nós, do TENDÊNCIAS e a tantos outros olhares sensíveis, seu trabalho também surpreende.

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