Obras do premiado artista mineiro Bruno Cançado são como um exercício poético, para além da arquitetura que ensejam quando observadas
Insta: BRUNO CANÇADO – AM GALERIA DE ARTE
Elementos da construção civil, como colunas e vigas, madeira, pedra, asfalto, porcena, pó de telha. Esses são alguns dos materiais que Bruno Cançado utiliza em suas esculturas. Ao vê-las é quase irresistível nos transportar para alguma sensação que a arquitetura nos transmite quando ela se entrelaça com a paisagem, com a esfera pública e com o habitar.
Mas, talvez, essa seja a sensação mais reduzida de enxergar a obra desse artista mineiro, quando não nos permitimos experimentar sua estranheza como objeto que não se deixa definir. Quem sabe ela nos mostre algo que ainda não sabemos, enquanto acreditamos que a arte cabe em nossas cabeças, muitas vezes ocas de tantas ideias alheias?
Desde 2010, Bruno Cançado participa de exposições coletivas no Brasil e no exterior. Realizou as individuais “Jardim”, na Central Galeria, São Paulo; “Trinca”, na AM Galeria, Belo Horizonte; e “Thin Failure”, na Hudson D. Walker Gallery, Provincetown, EUA. Tem sido contemplado com prêmios de residências artísticas como Bemis Center for Contemporary Arts, EUA, 2013 e a Fine Arts Work Center in Provincetown, EUA, 2014/2015.
No trabalho de Bruno, os materiais utilizados, como os descritos no início desse post, podem descolar nossa experiência do que nos é familiar, propondo um jogo sensorial que sugere fragilidade e transformação. São obras que exploram a vulnerabilidade e o afeto em materiais “duros” e urbanos.
Em uma de suas exposições, por exemplo, intitulada “Jardim”, ele nos convida a repensar nossa relação com a cidade. Segundo afirmou, “a intenção é relacionar a densidade da paisagem urbana a elementos naturais e ao afeto do jardim. Espaços urbanos me parecem muitas vezes ‘brotar’ fora do nosso controle. A partir dessa ideia, decidi criar um jardim de formas geométricas que parecem tentar se erguer, mas que inevitavelmente retornam ao chão”.
Para de fato enxergar o trabalho de Bruno Cançado é necessário libertar-se do pensamento pronto e ousar pensar, e fazê-lo de um jeito diferente. Afinal, a verdade da obra está nesse lugar onde ela jamais está pronta.
FOTOS: JOMAR BRAGANÇA