Além da sala

Projeto de Pedro Lázaro para a CASACOR Minas 2025 surpreende pelo conceito, pela sensibilidade e pelo respeito histórico que apresenta

Insta: CASACOR MINASPEDRO LAZARO

Com poucas interferências na construção original, o ambiente de Pedro Lázaro para a CASACOR Minas 2025 mostra sua atemporalidade e acolhe várias traduções, embora todas se resumam em um mesmo sentimento. Uma delas, a partir das escolhas precisas, tanto no design do mobiliário – boa parte assinada pelo próprio arquiteto – ou nas obras de arte eleitas e também na proposta arquitetônica. O resultado surpreende pela riqueza de conteúdo que expõe segurança e bagagem cultural e histórica do autor. É a partir do intencional vazio da entrada que o layout se organiza, com a mesa de jantar ao fundo e duas ocupações laterais. Um espaço pensado como o próprio arquiteto gosta de receber em sua casa. Com o conforto para o antes, o impecável e só o absolutamente necessário para o durante e ainda um espaço para o ‘after’, para ocasiões que, de tão boas, não deveriam ter fim ou se isso está fadado a acontecer, que seja com alegria e descontração.

A escolha de Pedro

A arquitetura Art Déco da construção, projeto de Rafaello Berti de 1939, tem um caráter básico da simetria entre os elementos de fachada e os elementos internos, porém, ao longo de décadas o prédio foi remodelado, em função das necessidades de sua ocupação, como a do já extinto Instituto Metodista Izabela Hendrix. Quando a CASACOR Minas começou a dar forma à edição de 2025, entre todas as áreas disponíveis, Pedro Lázaro viu aquela sala como único espaço remanescente dessas estruturas originais e suas simetrias e a escolheu por esse motivo.

É característico do trabalho do arquiteto pegar o espaço natural, do jeito que ele se apresenta e estuda-lo, para reforçar nele sua relevância arquitetônica. E foi a partir daí que o projeto começou a tomar forma. O resultado do layout foi fruto, em princípio do eixo traçado pelo arquiteto, em relação à simetria da parede com janelas, ao fundo. Como composição arquitetônica, ele valorizou essas aberturas, gerando uma parede mais espessa, com mais 35cm de peitoril, obtendo assim, mais profundidade e organizando de forma mais intensa sua estrutura de pensamento.

 A ideia foi fazer um espaço que tivesse um elemento central e dois outros laterais como ocupação. Há um vazio proposital na entrada, como um respiro para a percepção do espaço e dos conceitos pretendidos. O tapete escolhido para esse momento, inclusive, já antecipa a proposta de Pedro em todas as suas nuances. Criado pelo arquiteto no ateliê da Bilé, ele foi feito em Betim (MG), em tear manual, por mulheres em situação de vulnerabilidade. A trama áspera e grossa e, ao mesmo tempo, brilhante e dura, feita em sisal, juta e seda não foi pensada para ocupar o vazio, mas para enfatizar o conceito do projeto e seus dois eixos traçados na lateral.

A partir dali os ambientes se organizam.  Essa estratégia foi pensada também pelo fato de ser um ambiente projetado para uma mostra como a CASACOR, onde o visitante começa a entender da porta, como a dinâmica do projeto se desenrola, antes mesmo de percorrê-lo.

Sobre o mobiliário

Pedro Lázaro desenhou vários dos móveis do ambiente, bem como trouxe outros também de sua autoria, feitos para outras edições da CASACOR Minas e CASACOR São Paulo. Como referências estilísticas em relação ao edifício, o arquiteto ainda elegeu duas poltronas nórdicas, de tempo próximo à construção: a lounge chair de Alvar Aalto ,1929, e a cadeira de balanço Mademoisele, de Ilmari Tapiovaara, 1948. Acrescentou ainda sensibilidades e memórias, como é o caso, por exemplo, da papeleira que virou bar, que foi do seu avô

Sobre as obras de arte

“Obra de arte não tem que combinar com nada, não tem que ser definida em função de estruturas decorativas”, comenta Lázaro.  Ao contrário disso, ele elegeu obras que contam histórias, das sociais às políticas, das pessoais até as que trafegam com um novo sentido em seu espaço. A opção por grandes formatos leva para suas paredes artistas mulheres expressivas, como Bárbara Wagner, Rosângela Rennó e Rachel Coelho, por exemplo. O espaço ainda exibe trabalhos de Máximo Soalheiro, Zanini de Zanine, Ai Wei Wei e Valtércio Caldas, este, criando um impacto sonante na primeira vista do ambiente. A beleza está em todas elas, mas o conteúdo que narram é primordial para estarem ali.

Iluminação

Uma sala de jantar que se propõe sem luz no teto, com várias peças de iluminação espalhadas de forma estratégica pelo ambiente, entre luminárias de mesa, de piso e de parede – todas italianas, de vários designers –  para gerar uma atmosfera unificada. Não há manchas no ambiente, mas uma paz sólida de luz, formada por esse conjunto disposto a uma altura inferior a 2,2m e que vai se diluindo em relação ao teto, oferecendo sensação de proximidade e de escala humana em função da luz.

Estudo, percepção, conteúdo, sensibilidade e arrojo. Tem muito de tudo isso no projeto de Pedro Lázaro para CASACOR Minas 2025.

FOTOS – JOMAR BRAGANÇA

DESTAQUES

Ouça nossas playlist em

LEIA MAIS

Além da sala

Projeto de Pedro Lázaro para a CASACOR Minas 2025 surpreende pelo conceito, pela sensibilidade e pelo respeito histórico que apresenta

Living do Colecionador

Ambiente assinado por Joana Hardy na CASACOR Minas 2025 propõe interpretação contemporânea das casas mineiras

A arte de bem receber

Projeto da arquiteta Manuela Senna esbanja sofisticação e apuro técnico e demonstra clara intenção de reunir pessoas, memórias e afetos

Por quê importa?

Dunia Zaidan na CASACOR Minas 2025 rompe com ideia que associa neutralidade à elegância reafirmando o valor da expressão individual