Histórias que se cruzam

Quem diria, arquiteto Frank Gehry foi um dos influenciadores do olhar do premiado fotógrafo Marcelo Coelho em andanças pelo mundo

Insta: Marcelo Coelho

O que o arquiteto Frank Gehry tem a ver com o fotógrafo Marcelo Coelho? Espera um pouco que eu já vou te contar. Nas andanças do Marcelo pelo mundo, quando não está fotografando a trabalho, geralmente para grandes marcas daqui, dos Estados Unidos, da Europa e Ásia, ele gosta de usar a câmera para cliques intuitivos, o que faz com que muitas vezes, a revelação de uma cena aconteça para ele muito depois da foto pronta.

Com mais de 25 anos de carreira, 20 deles vividos em Los Angeles, na Califórnia, a assinatura de Marcelo Coelho em cada trabalho passa por um processo de imersão, requinte, cuidado e atenção refinada nos mínimos detalhes. No autoral é a mesma coisa: são imagens que traduzem não só própria alma do fotógrafo, mas o momento a que ela se relaciona. Observar a experiência de pessoas em um determinado ambiente, seja público ou privado, seja uma galeria de arte, um shopping ou uma esquina é, para ele, como uma brincadeira. Uma satisfação que muitas vezes se completa depois da imagem capturada. “Muitas das fotos que faço, ganham sentido depois. Gosto de fotografar sem amarras, sem o racional me dizendo o que fazer. Usar a intuição para fotografar às vezes me faz enxergar um monte de coisas que só consigo ver na edição”, comenta.

Com um curso de Engenharia concluído e um de arquitetura pela metade, mesmo quando descobriu que não era exatamente aquilo que queria, nada disso tirou de Marcelo o prazer de observador de espaços arquitetônicos. Um namoro que ganhou intensidade por obra do acaso, ou, se preferir, das sincronicidades da vida. No início, logo que chegou em Los Angeles, que por sinal também é chamada de Cidade dos Anjos e de Cidade das Ilusões, Marcelo começou do começo, como quase todo mundo. Um dos primeiros ofícios foi o de entregador de pizza. Uma delas, ela a deixou em um escritório de arquitetura, que o deixou completamente embevecido. Ele ainda não sabia, mas era o escritório de Frank Gehry, um dos arquitetos mais aclamados do século 20.

Anos mais tarde, já com a carreira estabelecida e com estúdio próprio, Marcelo foi incumbido de fotografar o mesmo espaço. E, assim, conviveu com Frank Gehry, quando os olhos do mundo todo se voltavam para ele, em plena efervescência da inauguração do Museu Guggenheim, em Bilbao, na Espanha. O trabalho, que deu especial notoriedade ao arquiteto norte-americano. A experiência virou a cabeça do fotógrafo, no melhor dos sentidos.

A partir dali, além da paixão pelas construções e ambientes bem projetados, Marcelo começou a fotografar a arquitetura com um novo olhar, partindo do ponto de vista do observador. No caso, ele, o fotógrafo, como observador, observando o observar de outras pessoas. Como ele diz, uma brincadeira que, de alguma forma, recria a natureza do que está sendo observado.

Alguns desses trabalhos foram selecionados para uma mostra individual realizada na Armany Gallery, em Los Angeles, com curadoria de Joseph de Mario, em 2004. “Na verdade, foi o próprio Joseph quem me ajudou a enxergar isso naquelas fotos”, comenta. Algumas delas, foram feitas em Venice Beach, onde os mais diversos murais inspiram qualquer amante de street art. É o caso da foto que tem, ao fundo, o painel com o famoso beijo clicado por Alfred Eisenstaedt, de 1945, que celebra o fim da segunda guerra mundial. No trabalho de Marcelo, ele se amalgama à uma cena atual, com outras interferências como os barris de chope empilhados no chão e outras pessoas na rua.

Já na cidade de Dubay, Marcelo viu poesia em um painel gigante por onde a água escorre em cascata, com várias esculturas alternadas de atletas de tamanho real, simulando um mergulho. “Fica essa dúvida da simbologia. Aparentemente poderia ser sem graça por estar dentro de um shopping center, mas achei interessante essa coisa de trazer um elemento externo para um ambiente interno”, diz. Em outra foto, feita em Londres, Marcelo viu a mulher em close em um pôster de rua e as pessoas que transitam alheias à emoção que está exposta naquela foto.

É parte dessa sensibilidade que Marcelo Coelho mostra atualmente em seus trabalhos de áudio-visual, que contam histórias que se complementam pelos detalhes das imagens e pelo movimento da câmera que extrapolam a narrativa e nos faz enxergar além. Para quem não conhece, vale uma imersão, por exemplo, em Negona Lá da Favelinha.

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