Matéria espessa e delicada

Curiosidade e procura pelo trabalho da artista Renata Laguardia cresce. Em suas pinturas, ela respeita os próprios instintos e emociona

Insta: Renata LaguardiaGaleria B_ARCOGAL Arte e Pesquisa

Foi meu querido Leopoldo Gurgel quem me apresentou o trabalho de Renata Laguardia. Nascida em Belo Horizonte, formada em Artes Visuais pela UFMG, a artista tem mestrado concluído na Ecole Européenne Supérieure de l’Image, na França e, atualmente, mora em São Paulo. Leo me disse: a pintura dela me emociona. Fui conferir, senti a mesma coisa. Conversando pelo celular com ela, essa emoção ganhou novos contornos.

Seu trabalho, principalmente na pintura, revela temas diversos: relações familiares, ritos sociais, o feminino, a memória coletiva e individual, os grupos, o cotidiano, a fotografia, o espaço da casa e, mais recentemente, a paisagem, onde transborda sentimentos oníricos, absurdos e o inconsciente. Uma paisagem que se instalou praticamente quando saiu de seu campo de visão, ao se mudar para São Paulo, em 2019. “Aqui não tem nem horizonte, é só prédio para qualquer lado que se olhe. Achei curioso, pode ser que seja uma compensação do que eu tinha em Belo Horizonte”, comenta a artista, acostumada, quando em Minas, a desfrutar as belezas do cerrado, na região da Serra do Cipó.

Embora revele que seu processo é intuitivo e inconsciente, respeitando os próprios instintos, com as paisagens, a artista sentiu necessidade de se aproximar delas e, por isso, fez a residência artística Kaaysá, situada entre a mata atlântica e o oceano Atlântico, no litoral paulista. Ficou por lá por três meses, suficientes para emergir as simbologias que seu trabalho atual exprime. Escolheu a água como ponto de partida e, como o elemento, tudo mais começou a fluir. “As paisagens começaram a tomar um aspecto místico, de coisa encantada. A natureza tem isso de encantamento e a maneira como eu a retrato passa pelo surreal, pelo fantástico”, comenta.

Depois de se alimentar do contato direto com os sons, as cores e a texturas da mata e da água em seu habitat de origem, Renata continua o exercício em casa, um amplo apartamento no centro da cidade de São Paulo, onde montou seu ateliê. Embora seja uma solidão comedida, já que divide o espaço com uma amiga, também artista, ela diz que percebe que aumentou o gosto por ficar em casa, ficar consigo mesma e com a sua pintura, algo também potencializado pela pandemia.

Como sempre esteve em ateliês coletivos, onde a troca é constante, essa falta foi substituída pelo gosto de cuidar da casa: “Enchi minha casa de plantas e comecei a decorá-la. Descobri que a beleza é fundamental para mim”, revela.

No campo das exposições, Renata está em compasso de espera: planeja uma exposição na cidade de Itajaí, em Santa Catarina, mas a agenda deve ser cumprida somente depois do arrefecimento da pandemia. O mesmo acontece com a mostra que fará na Galeria b_arco, que a representa em São Paulo.

Mesmo assim, não faltam colecionadores e novos interessados em seu trabalho. Na última SP Arte, feita em formato virtual, a b_arco expôs seu trabalho na capa de seu portfólio. Renata Laguardia assiste o crescimento da demanda pela arte que faz e, por enquanto, segue desvendando seus próprios mistérios em seu ateliê e nem por isso nos emocionando menos com suas criações.

Fotos: Gui Gomes

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