Da janela lateral

Ensaios de Jomar Bragança, como o atual, que leva o título acima, elevam a fotografia ao patamar das artes visuais

Insta: Jomar Bragança

Jomar Bragança começou sua formação profissional na Engenharia, mas já naquela época sentia que havia algo que o curso de exatas não lhe oferecia. A chave da satisfação que procurava veio no curso de Belas Artes, onde fez todas as matérias eletivas que poderia naquele momento. E, assim, foi abandonando aos poucos a primeira opção, sabendo que teria que encontrar um novo rumo nesse início profissional.

Experimentou também o cinema, mas o caminho acadêmico o levou de encontro à arquitetura. Curso que, a princípio, foi trilhado de forma intuitiva, como se, nele, pudesse sintetizar, de alguma forma, tudo o que estava assimilando e lhe provocando novos desejos. Nesse imenso corredor de múltiplas opções que apontam para o que será a vida de qualquer um após concluída a faculdade, a porta da fotografia, entreaberta para Jomar, parecia bastante atraente para quem já havia despertado o olhar com o cinema.

Aos poucos, a fotografia passou a ser profissão e o foco já estava definido: queria fotografar arquitetura. Um outro momento adicionou ainda mais consistência a esse novo enquadramento: início da história da CASACOR, quando os profissionais que participavam da mostra começaram a criar uma nova demanda, diretamente relacionada com o seu trabalho fotográfico. “Foi aí que meu foco de atenção definitivamente se voltou para a fotografia de arquitetura”, lembra.

Hoje, Jomar Bragança é um dos mais respeitados fotógrafos do setor. A experiência, a sensibilidade rara para entender o que enquadrar, para perceber os detalhes de composição e da luz, entre outros muitos atributos que destacam um profissional nessa área, Jomar tem de sobra. A vivência e o aprendizado das aulas no curso de arquitetura e urbanismo da UFMG, certamente lhe conferem algumas vantagens, embora sejam só um recorte, uma parte de seu talento.

Afora as fotos profissionais, os livros publicados, entre eles a série intitulada Interiores, uma espécie de anuário de projetos de arquitetura, Jomar também se dedica a ensaios autorais. Não são uma regra em seu cotidiano que atende à demanda de profissionais que querem ter um registro à altura do que fazem em cada projeto. Mas algo que se incorpora ao dia a dia do fotógrafo como uma tentativa de mostrar ao observador a percepção de um todo e, ao mesmo tempo, possibilitar o detalhe, o mais sutil, aquilo que não é óbvio.

No campo do ensaio, Jomar trabalha como se estivesse fazendo anotações visuais, registrando essa percepção que todo dia soma um algo mais ao que faz. “Quando a gente se envolve em um trabalho desse tipo, é ele que te conduz. Sou levado e, depois, tento revelar isso tudo para mim mesmo”, comenta.

É o que acontece em Paisagem Confrontada, título de um desses ensaios, no qual ele faz uma reflexão sobre a paisagem que nos é permitida hoje. “Quem vive nos grandes centros urbanos, sempre se depara com uma paisagem em que há alguma interferência, como uma indústria, um amontoado de prédios, por exemplo. É como se fosse uma cicatriz nessa paisagem”, explica. Há outros ensaios, como o que se chama Deep Blue, que tinge o enquadramento com nuances de azul, ou Brasília pb, que nos ensina a ver o modernismo de Nyemeyer por outros ângulos.

Há muito mais. Entre eles, o que o fotógrafo tem se dedicado mais, em tempos de isolamento social. Chama-se Da janela lateral e mostra aquilo que Jomar vê todos os dias da janela do escritório que montou em sua casa. São imagens que fazem um registro do tempo passado na pandemia. E que manifestam esse tempo pelas variações de luz, de céu, do espaço à sua frente. Anotações visuais que, como sempre, em vez de serem conduzidas à câmera, vão conduzindo o olhar de Jomar para algo ou um caminho que, por hora, nem ele mesmo sabe onde vai dar.

Em Belo Horizonte, quem representa o trabalho autoral de Jomar Bragança é a AM Galeria de Arte.

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