A arquitetura do preconceito

Atual exposição no MoMa de NY escancara como o racismo sistêmico fomentou histórias violentas de discriminação e injustiça nos EUA

Insta: MoMA

O tempo da pandemia tem servido principalmente para reflexões, que dizem respeito ao planeta Terra, ao nosso planeta interior, aos preconceitos que ainda atrasam a humanidade de dar um passo à frente, à nossa relação com as pessoas e com a vida de um modo geral. Um assunto tão vasto quanto a história da humanidade e, por isso, entre os recortes que jogam luz nessas questões, o Tendências destaca a mostra inaugurada recentemente pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque que se chama Reconstructions: Architecture and Blackness in America (Reconstruções: Arquitetura e Negritude na América), quarto desdobramento da série Issues in Contemporary Architecture.

A exposição e a publicação que a acompanha examinam a arquitetura contemporânea para investigar e, de certa forma, escancara, a maneira como o racismo sistêmico fomentou histórias violentas de discriminação e injustiça nos EUA. São10 trabalhos inéditos, encomendados pelos arquitetos, designers e artistas selecionados: Emanuel Admassu, Germane Barnes, Sekou Cooke, J. Yolande Daniels, Felecia Davis, Mario Gooden, Walter Hood, Olalekan Jeyifous, V. Mitch McEwen e Amanda Williams.

O museu observa que as condições de racismo sistêmico não só estruturaram, mas continuam a repetir a mesma fórmula no ambiente construído das cidades americanas por meio de políticas públicas, planejamento municipal e arquitetura, com repercussões específicas para as comunidades afro-americanas e da diáspora africana. As obras exploram como as pessoas têm mobilizado espaços, formas e práticas da cultura negra como locais de imaginação, liberação, resistência e recusa.

Séculos de privação de direitos e violência baseada em raça levaram a um ambiente construído que não está apenas comprometido, mas também, como afirma o crítico Ta-Nehisi Coates, “argumenta contra a verdade de quem você é”. Essas injustiças estão embutidas em quase todos os aspectos do projeto da América – uma herança de bairros segregados, infraestruturas comprometidas, toxinas ambientais e acesso desigual a instituições financeiras e educacionais.

Cada projeto da exposição propõe uma intervenção em uma das 10 cidades: das varandas frontais de Miami e os igarapés de New Orleans às rodovias de Oakland e Syracuse. Reconstructions examina as interseções do racismo anti-negro e negritude dentro dos espaços urbanos como locais de resistência e recusa, tentando reparar o que significa ser americano.

A exposição foi inaugurada em 27 de fevereiro e permanece em cartaz até 31 de maio deste ano e é uma boa reflexão para quando o Brasil entender que também tem um longo processo de reparação em relação a sua população negra, que representa um percentual de 56% do todo e que também sofre desse mesmo racismo estrutural ao longo da nossa história.

Capa – Reconstructions: Architecture and Blackness in América. Cortesia do Museum of Modern ART, Robert Gerhardt

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