Casa viva

Cheio de bossa, apartamento da arquiteta Ana Bahia é um bom exemplo de como um arquiteto pensa a própria casa

Insta: ANA BAHIA ARQUITETURA

Casa de arquiteto, arquiteta costuma ter uma bossa diferente, que aguça curiosidades. Dá vontade de saber como é, porque, supõe-se, que ali está a verdadeira essência desses profissionais.

O apartamento da mineira Ana Bahia condiz com esse pensamento: ele traz características que são a cara dela. “Fazer o próprio projeto é um momento de muita reflexão, já que, como arquiteto, a nossa bagagem de referências é enorme. A pergunta que fica é: o que eu realmente quero ter na minha casa?”, comenta Ana.

A arquiteta não se prende a um estilo, nem a um tempo definido. Seu apartamento consegue fazer essa mescla com equilíbrio, harmonia e, claro, muita personalidade. Antes da composição, a tarefa foi a de encontrar o endereço que satisfizesse suas expectativas.

Ao entrar no imóvel pela primeira vez, ela bateu o olho no painel de jacarandá, no piso de taco e foi logo dizendo: “aqui é a minha casa’. Claro que nada estava como se vê nas fotos. Mas o que a Ana viu ali, em 160m2, foi o potencial: uma planta bem resolvida, onde seria fácil ela encaixar o programa que pretendia.

O projeto demorou um mês para ser concluído e a obra, outros três meses. (Na verdade, a Ana não é muito ligada a ambientes estáticos, que nunca mudam, mas o principal foi realmente resolvido nesse período de tempo).

E assim surgiu o lar de Ana Bahia: com um grande espaço social, uma sala de jantar ampla e todos os detalhes que ela não teve pressa para finalizar. A cozinha, a área de serviço e os banheiros foram reformados e muita coisa foi somente revitalizada (a exceção dos armários dos quartos que não puderam ser aproveitados por estarem em um estado precário e que foram lindamente substituídos por outros, na cor verde).

“Precisei de tempo para finalizar como queria. Na verdade, não concordo com um apartamento que se define pronto quando termina a obra”. Ana conta que muita coisa foi mudando com o tempo: “Dei o meu tempo para pensar no que realmente precisava e acho que tudo aqui entrou no momento certo”, conta.

É interessante o processo, já que, primeiro, ela pintou tudo de branco, para depois entender o que estava sentindo falta. O corredor, por exemplo passou por várias cores antes de se fixar no azul esverdeado. “Primeiro criei a base. Casa é vivência. Depois, comecei a entrar com cor na área de serviço, no banheiro com listras, no corredor… tudo para mim é uma descoberta e casa é uma dessas descobertas deliciosas”.

Muitos móveis vieram com ela do antigo endereço. É o caso da cristaleira, presente de seu pai, que já foi uma vitrine de mercearia e de uma cadeira que ela apenas trocou o estofado. Aí, vieram os tapetes e outras peças que foram acrescentando repertório ao apartamento. “São coisas que têm história para contar. Acredito na arquitetura que não chega envelopando tudo”. Por sinal, os únicos móveis planejados são os da cozinha.

Nem sempre esse apartamento está como nas fotos. “Gosto de alterar os layouts. Tem coisas que não dá para mudar, mas no geral, costumo trocar estofados, mudar a posição dos móveis. Nunca a minha casa é a mesma”.

Como a curiosidade é grande, deu vontade de saber qual é móvel que ela mais gosta. A preferida é uma de design clássico italiano, chamada Maggiolina. “Ela é confortável, descontraída e eterna. É um dos cantos que mais gosto da casa e nem é o móvel mais importante aqui”. No caso, quem ocupa esse papel é a poltrona Cité, de Jean Prouvé para Vitra.

Nas obras de arte eleitas, a arquiteta segue o mesmo raciocínio: nada foi escolhido pelo seu valor de mercado, mas pelo valor afetivo, representando um momento de sua vida. A peça de seu companheiro, o artista Lucas Duppin, que faz parte da série Bibliomorfa, por exemplo, tem licença poética e de sentimento para figurar sozinha na parede do jantar.

Os banquinhos, uma das paixões de Ana, também merecem destaque: “Tenho verdadeira loucura por banquinhos. Não posso ver um que já quero comprar”. É o caso do banquinho com pufe no meio da sala de TV e do banco de uma etnia do Xingu, que está ao lado de sua cama.

E é assim que o olhar aguçado, essa inquietude, a bagagem lotada de referências e conhecimento que Ana Bahia dá cara de lar ao seu apartamento: com um projeto vivo que, não se espante, pode ser alterado a qualquer momento.

FOTOS – STUDIO TERTULIA

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